terça-feira, julho 25, 2006

Sonhando AmarEla, uma tragédia grega.








Ali me revi.
Dirigindo as suas largas avenidas...
Parecia que tinha novamente sobre mim
Um céu diferente, de horizonte aberto e sol radiante,
Feito ela a me dizer:
Em mim a felicidade está mais próxima.

Leda leda sensação,
Como ledo o sonho?!


É amarela
A cor da natureza morta.
A mesma cor do ciclo
Amargarela as minhas entranhas.

AmarElas,
AmarElas...

Pois hoje acordei com a barriga emperrada,
Emburrada de tão empedrada...
Quase paralisada,
A me sorrir amarelada.





Fotos por Ketty El Hajjar, em Atenas, Kefalonia, Itaka e Zakintos, na Grécia, em junho/2006. O mar azul é para brindar com um sabor diferente àquelas cidades quentes e ensolaradas, sempre a prometer em suas miragens que depois daquela curva, logo ali, ele estará lá, já sabendo que não estará. E para noa, rezo Cazuza: se não tem, a gente inventa.

quinta-feira, julho 20, 2006

O VÔ








Hoje vou falar dos pais. Do vô, do pai, do filho e da filha... e assim por diante, nessa cadeia sucessória que nos encadeia a todos, desde sempre, uma vez nascidos.

O vô é meu. O pai é do seminarista. O seminarista em vias de entregar o seu ofício a Deus Pai.

O pai cai, na calçada, antes de chegar à cerimônia do filho. O vô o vê, ali, caído. Os transeuntes, saindo da missa, também. Eles passam, mas o pai continua lá, transvestido de um cabra qualquer, caído na sarjeta, talvez por culpa do ócio ou da bebida. Ora ora o que não são as evidências!

Não para o vô. O vô vai até ali, desatendendo ao chamado da filha, para não ficar se envolvendo com 'coisas assim'. Mas o vô, ali também pai, diz: minha filha, pode ser alguém precisando de ajuda. E foi-se até o outro pai.



Ali se encontraram todos os pais. O da filha, o do padre e Aquele que dizem sempre onipresente. O pai do seminarista, então já padre, tinha tido um ataque do coração antes de chegar à cerimônia. Foi salvo. Não pelos pais, supostamente cristãos, que por ele passavam ali no chão. Não, foi salvo pelo vô, conhecido e 'temido' comunista. Não, certamente, por ajudar aos comuns. Isso deduzo eu por ter ele recebido em casa a extra unção do então Arcebispo Albano Cavallin, quando já se despedia de nós, antes de se aventurar em nova viagem, de destino desconhecido. Ah, esse vô, sempre tão cheio de vida!

O vô? Era assim que eu e todos os meus afins - nós, a criançada, o chamavam, sempre para brincar. Olha o ovo, olha o ovo. Menina, eu não sou ovo! Eu sei, ô vô!

Fotos antigas, retiradas das minhas lembranças registradas, passadas no Bairro do Seminário, que foi assim batizado justo porque ali nas redondezas havia um Seminário, para a formação de padres católicos. Aa rua que se vê ao fundo fazia parte da Rota dos Tropeiros, que existia já na época do Brasil Colônia. Haja chão, desde então... enquanto isso, ainda fico a questionar: quem veio antes, o ovo ou a galinha, ô vô?