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Há mais de um ano que estou para reproduzir aqui um trecho de uma entrevista publicada na Revista Seleções (Reader's Digest), edição de setembro de 2005, pág.109/111.
Trata-se de um texto escrito por Helena de Bertodano, onde relata o seu encontro com Kim Peek, o verdadeiro Raiman, como diz a chamada da reportagem, cujo trecho que aqui importa abaixo reproduzo:
"O papel ganhador do Oscar interpretado por Dustin Hoffman em 1988, sobre um autista superdotado com impressionantes habilidades matemáticas, é baseado em Kim Peek (entre outros), embora Kim não seja autista, mas uma pessoa com transtorno do desenvolvimento. A maioria dos superdotados domina até três áreas do conhecimento humano. Kim é megadotado, porque domina pelo menos 15 áreas diferentes.
Não se sabe de ninguém no mundo que tenha um cérebro tão extraordinário quanto o de Kim Peek. A NASA tem esperanaçs de utilizar os modernos avanços na captação de imagens e nas técnicas de fusão de dados como meio para desvendar o funcinamento do cérebro de Kim.
Pergunto a ele o que acha dessa idéia. 'É a melhor de todas', responde enigmaticamente. Pergunto também por que ele sabe tanto. '
Tenho um grande amor por todas as pessoas que vejo'. É difícil manter uma conversa com Kim. Sua mente pula de um assunto para outro com uma rapidez supreendente - com Fran (o pai) sempre tentando colocá-lo de volta aos trilhos".
O que mais me chamou a atenção quando li esse texto foi exatamente a colocação que se seguiu à resposta de Kim, quando justificou o seu extraordinário dom de armazenar conhecimento à sua capacidade de amar. A perplexidade da entrevistadora frente à verdade de Kim é imediata: é difícil manter uma conversa com Kim, diz ela, encontrando respaldo na sua aflição ao afirmar que também o pai busca trazê-lo de volta aos trilhos.
Eis aqui, então, o meu convite à reflexão: de onde vem a dificuldade nessa comunicação?
Se esse desafio instigar ao leitor, veja no comentário desse post o texto entitulado 'Os Normalpatas' (www.hottopos.com/mirand4/normalpa.htm.). E adiantando-me aos meus queridos amigos, que se bem conheço vão torcer o nariz para demonstrar que coisas complicadas como as ditas nesse artigo não são convidativas à leitura, dou, aqui, a minha conclusão particular, o efeito desse dito em mim.
A minha percepção assoprou em meus ouvidos a compaixão. O louco agride, mas apenas para assegurar-se da capacidade de compaixão daqueles que se propõem a amá-lo. A sua dor é tamanha, que é preciso amor demais, um doar-se sem limites, para amar os 'loucos' verdadeiramente. É preciso admitir-se louco antes, perder o medo de perder-se, ir além da aparência de si mesmo para encontrar aquele que 'preferiu' - conformando-se às suas condições singulares, ficar aquém do bem e do mal. Ou seja: só quem se permite ir além do seu próprio bem ou mal pode apreender que, às vezes, o insuportável da vida é o que suporta veladamente essa mesma vida.
E eis que encontramos inúmeros relatos que nos dão conta da personalidade gentil de Kim Peek, ao mesmo tempo em que se sabe que a formação de seu cérebro distingue-se dos demais por não haver divisão entre hemisfério direito e esquerdo, de forma que essa aparente 'anormalidade' nos acena que uma das portas de entrada para acessar a vasta capacidade de nosso cérebro, inerte no padrão da nossa atual generalidade, pode ser justo o cessar do divisor d'águas dos universos direito & esquerdo. O que me remete às divindades hindus/budistas, onde comumente se vê a representação do masculino e feminino em um mesmo ser divino.
A seguir, alguns retalhos a mais, para compor esta colcha, retirados de www.amigosdosautistas.zip.net, blog desativado, ao que parece, em 2004, mas que traz comentários que contribuem para esse pensar.
"O MITO: Os autistas gostam de ficar sozinhos.
A VERDADE: os autistas gostam de estar com os outros, principalmente se sentir-se bem com as pessoas, mesmo que não participem, gostam de estar perto dos outros.Podem as vezes estranhar quando o barulho for excessivo, ou gritar em sinal de satisfação, quando seus gritos não são compreendidos, muitas vezes pensamos que não estão gostando.Tente interpretar seus gritos. (Fonte:www.maoamigaong.trix.net/mitoseverdades.htm)
"DIFICULDADE DE RECONHECER VOZ ESTÁ NO CÉREBRO DO AUTISTA, DIZ ESTUDO".
Um estudo publicado na revista científica "Nature Neuroscience", edição de agosto, revela uma incapacidade dos autistas em ativar as zonas do cérebro responsáveis pelo reconhecimento da voz, o que pode explicar parte das dificuldades que os autistas apresentam em se relacionar com o mundo exterior. Uma ou duas crianças em cada mil têm probabilidades de nascer com autismo.
Para identificar as bases cerebrais desta doença, os investigadores recorreram a imagens obtidas por ressonância magnética funcional.
A voz é um estímulo auditivo rico em informação sobre a identidade e o estado emocional do interlocutor, e desempenham um papel crucial nas nossas interações sociais.
Os cientistas registraram a atividade cerebral de cinco autistas adultos e de oito voluntários sãos enquanto ouviam seqüências de sons de vozes humanas (palavras, choros, risos ou cantos) e outros barulhos (animais, sinos, instrumentos musicais ou carros).
Nos autistas, as regiões do cérebro ativadas são exatamente as mesmas para vozes humanas e outros sons. "Os resultados revelam nos autistas uma ausência de ativação da área específica da percepção da voz", dizem os pesquisadores.
Além disso, questionados sobre o que haviam entendido durante o exame, os autistas reconheceram apenas 8,5% dos sons como voz humana --contra 51,2% do restante dos indivíduos--, confirmando sua fraca capacidade de reconhecimento de voz.
Uma pesquisa anteriormente realizada revelou nos autistas uma disfunção semelhante no reconhecimento de rostos.
"Estas anomalias do tratamento da voz e dos rostos sugerem que as dificuldades dos autistas em compreender o estado emocional dos outros e em interagir com eles poderão estar ligadas a uma deficiência na percepção dos estímulos sociais", concluíram os cientistas.
Essas novas descobertas permitirão a elaboração de estratégias de reeducação.
A pesquisa foi realizada em Orsay (França) pela equipe de Monica Zilbovicius, do Instituto Francês da Pesquisa e da Saúde) em colaboração com a Universidade de Montreal (Canadá).
- Aqui, permito-me o parênteses para dizer que trago a informação do estudo realizado acerca da capacidade auditiva dos autistas, reservando-me, porém, a parcimônia quanto a aderir à conclusão de que os autistas possuem deficiência na percepção dos estímulos sociais. Do pouco que já ouvi acerca dos que convivem de alguma forma com autistas, as notícias da surpreendente capacidade que possuem de 'atravessar a alma, nas raras vezes em que fixam o olhar com seu interlocutor', bem como 'de antever algumas situações e até mesmo profetizar coisas a acontecer', somadas aos impressionantes dons demonstrados pelos denominados savans, são elementos que me permitem pensar em uma porta de entrada que nos convida a trilhar por um caminho que pode levar a uma nova percepção do que hoje se concebe como 'normalidade'.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u12308.shtml"
E se quiser saber um pouco mais sobre Kim Peek, dê uma olhada nos endereços:
http://216.239.51.104/search?q=cache:TCwimU5XcOkJ:ciberia.aeiou.pt/gen.pl%3Fp%3Dstories%26op%3Dview%26fokey%3Did.stories/659+Kim+Peek&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=3&gl=br&lr=lang_pt
www.wisconsinmedicalsociety.org/savant/kimpeek.cfm
http://216.239.51.104/search?q=cache:R6RRNQ6d1ZYJ:sl4.org/archive/0503/11043.html+Kim+Peek+Nasa&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=14&gl=br
en.wikipedia.org/wiki/Kim_Peek