sexta-feira, julho 13, 2007

Verso Estrilado






É uma dor intermitente,
Faz-se lembrar latente.
Queima a cadeira do coração,
E a razão a procurar razão.



Desnuda-se canha,
Entre vieses entrecortados -
A isso não sei quem há acordado,
Essa tal relação.



O pensar com emoção
É - para espasmos não há razão,
Destra presciência.



E tal estro estrilado,
Dum certame dardejante,
Atesta resiliência.


"O grilo possui uma longa antena, órgãos auditivos nas asas anteriores.
Os machos produzem sons chamados de estrilar para atrair a fêmea. O som é produzido pelo atrito dos pêlos que se encontram nas suas asas. Normalmente o estrilado do grilo é intenso para atrair a fêmea e se torna mais suave quando inicia o processo de cortejo. As fêmeas possuem um órgão ovopositor característico. Eles cavam até meio metro de profundidade para uma habitação circular aonde o macho vai para cantar. O grilo é um inseto de hábito noturno que costuma cantar. Diz o folclore brasileiro que quando se acha um grilo cantando em casa, não pode espantá-lo, pois o canto do grilo em casa significa dinheiro e sorte".(http://www.brasilescola.com/animais/grilo.htm).

Por isso, nada melhor do que versos estrilados para uma sexta-feira treze!

3 comentários:

Cláudia disse...

Queima a cadeira do coração diz de uma dor intermitente a se fazer lembrar do lado esquerdo, espasmando em cólica. Fisiologicamente, ao lado esquerdo se atribui o coração, órgão que comumente é metáfora da emoção.
Entretanto a emoção, na fisiologia do cérebro, corresponde ao lado direito, sendo a emotividade atrelada à feminilidade, contrapondo-se à razão, atributo da masculinidade.

Os viéses entrecortados remetem às nadis inda e pingala que se entrecortam ao longo da coluna vertebral, indicando as nuances internas corporais que nos dão conta do vai e vem, no corpo, dessa relação direita/esquerda, emoção/razão.

Para a psicanálise, o lado da razão é representado pelo significante masculino, que é o portador do nome-do pai, ao inscrever a lei. Aqui, a razão, à procura da razão para a sua dor, o faz sem suprimir a emoção, que em verdade se faz representar no corpo, em espasmos que queimam. Assim, o pensar com emoção dilui a dor e, ao colocá-la em palavras, atesta a propriedade da resiliência.

Por isso, nesse processo, importa menos a visão poética pelo viés literário e mais as metáforas que caminham pelos labirintos da dicotomia intrínseca do masculino/feminino.

Minha poesia, eis que cumpre-me informar ao suposto leitor:

É canha, é às avessas.
É a mão esquerda,
É cachaça d'aguardente.
Desce queimando garganta adentro,
Enebriante e viciante.
É estro, é inspiração.
Poética,
É desejo sexual.
Latejante,
Espasma a razão,
A desdizê-la,
Por ímpetos e'moção.

Julho 17, 2007

Anônimo disse...

Eu gostei.

Li a poesia e senti que aquele monte de palavras difíceis estavam sendo ditas com propriedade.

depois tive certeza, pois tudo vc explica, sem que fosse preciso.

Cláudia disse...

Ao autor não cabe explicar a poesia, mas deixar que o leitor a descubra à sua própria maneira. Se decidi trazer um pouco das nuances dos caminhos pelos quais percorri -não todas, por impossível-, foi para responder à pergunta: Clau, quem é que vai entender isso? Urgia, então, esclarecer que minhas palavras não buscam formatar o efeito da interpretação, mas sim servir de lamparina a iluminar os infinitos rumos que podem ser seguidos no labirinto da significações singulares. Então, sintam-se livres e à vontade para, como disse-me outra amiga, ouvir melhor o 'grilo'. Ou, como apontou a versão romântica de um amigo querido, tudo o que fala de amor é bonito!

:))