quarta-feira, dezembro 03, 2008

Caleidoscópio


Trans-parentes.
Assim deveria ser a vida,
Imagens, sem miragens,
Contentes!

Constante flainar,
Segue em únicos instantes,
A transcender a cá-lei-do-escópi'o:*
Mil personagens de si mesma.

Dá-me a mão, imagem refletida?
Vertida e alienígena,
Despida, peça ao contrário.

*escópico, vide comentário.
*Concebida lá pelos idos 2006, nasceu hoje.
*Ilustração em http://universo70.files.wordpress.com/2007/12/logo_caleidoscopio-animado.gif

terça-feira, novembro 18, 2008

Dhyanabindu Upanishad

I

O pecado acumulado durante a vida
é alto como uma montanha
e longo como mil léguas!
Só pode ser destruído
pela prática da meditação:
Não há outro meio.

II

A sílaba germe (bija mantra)
é encimada por um ponto
e por uma lua crescente.
Ela é sonora,
mas, se for destruída a sílaba,
não resta senão o Absoluto,
silencioso.


XXXVII

Fluindo como o azeite
vertido em jato contínuo,
semelhante ao zumbido
de um sino tocando ao longe,
é a ressonância indizível
da sílaba Om;
quem a conhece, conhece o Veda.

XXXVIII

Estabelecido firmemente
na prática do Yoga
o yogin aspira o ar
como se aspira a água
por meio de um bambu;

XXXIX

tendo reduzido o lótus
à metade de um botão,
ele aspira o ar exterior
pela haste apenas da flor
e o faz subir até o ponto
existente entre as duas sobrancelhas
onde o ar aspirado se dissolve.

XL

Lá, no meio da fronte
na raiz do nariz,
está o Centro da Vida,
morada da imortalidade (amrita-sthana).
O yogin deve conhecer
este lugar de majestade
onde mora Brahman.

XLI

Posturas, retenção da respiração,
retração dos sentidos, atenção concentrada,
meditação, êxtase final,
tais são as seis etapas do Yoga.


Esse post é em homenagem a uma sucessão de eventos que reúnem um misto de conquistas, dificuldades, tropeços, reconquistas, reencontros e novas possibilidades. A escolha dos trechos da Upanishad, que faz parte da tradição védica de uma das vertentes da filosofia yogue, não é à toa. O Yoga me acompanha, em indas e vindas, desde a minha adolescência, quando tive o meu primeiro contato com as práticas, num ambiente que alguns podem achar inusitado: dentro de um colégio marista, de tradição católica. As aulas eram dadas por um dos irmãos da congregação, o qual, soube muito tempo depois, a deixou para seguir a vida a dois. O que mais me fascina, dentro dessa proposta do pensamento humano, guardadas as devidas proporções, que aconselham o cuidado com certas literalidades, dado não só o caráter altamente simbólico das escrituras, mas também o largo lapso de tempo que nos separam do contexto em que foram redigidas, é a crença firme de que podemos superar padrões de pensamento, condutas e disfunções do corpo e da mente, através da prática. Por isso, a impossibilidade de assemelhar-se a meros exercícios físicos, pois cada postura trabalha não apenas a parte corporal externa, mas também a interna, seja a fisiológica como a psíquica.

Para falar da tradição yogue, em rápidas linhas, cabe lembrar a existência de diferentes escolas, com propostas singulares, onde algumas dispensam as posturas físicas, como o Raja Yoga, que dá ênfase à meditação, a qual, entretanto, bom dizer, dificilmente pode ser suportada pelo corpo, por um longo período de imobilidade, sem que se esteja preparado para tanto. Mas se fosse possível tirar um fio que pudesse permear em generalidade a essência do yoga, eu escolheria aquele que traz escrito em si a lição de que o corpo deve ser trabalhado dentro de princípios básicos, que consistem em conjugar a estabilidade e a maleabilidade do corpo e, em especial, da coluna vertebral, que pode ser exercitada com flexões para frente e para trás e torções para a direita e esquerda; práticas de equilíbrio e inversões em relação à gravidade, onde se procura localizar a parte superior do corpo abaixo da linha da cintura ou dos pés, essa última conhecida como postura invertida sobre a cabeça. O objetivo, assim, é conjugar, sempre, estabilidade, flexibilidade e força interna, durante a permanência dentro das posições, propiciando ao corpo uma maior leveza de movimentos, que exala uma vivacidade de energias em equilíbrio, o que é possibilitado, ainda, pela associação de práticas respiratórias (pranayamas) às posturas físicas (ásanas).

Dentre tantos ensimamentos que a prática nos proporciona, a observação de si mesmo talvez esteja dentre as que mais benefícios trazem. E, pessoalmente, confesso que muitas me conduziram a diversas experiências de estado modificado de consciência, desde a mais simples sensação de conexão com uma sabedoria que se encontra para além da razão e que se dá a conhecer pela segurança profunda com que nos arrebata, até a emoção inusitada de intensa felicidade de quem retorna ao lar, após uma longa jornada. E é por isso que nunca deixo de render as minhas homenagens a essa tradição do pensamento oriental, pois mesmo que eu fique um bom período afastada, dentre indas e vindas, cada reencontro deixa a sua marca indelével mas certeira das inúmeras possibilidades que se abrem, a nos auxiliar no caminho.

Hari Om!

:))

Excertos a partir de "As Upanishas doYoga - Texto sagrados da Antiguidade", Carlos Alberto Tinoco.

segunda-feira, outubro 27, 2008

Ciência & Metafísica

Sempre que se trilha um caminho rumo aos rigores da ciência, parece que há um contra-ponto quase que inevitável: tudo o que não é científico deve ser relegado ao plano da metafísica, o que, em geral, é visto pelo rigor acadêmico como pura crença pessoal desprovida de qualquer fundamento plausível racional.

Mas como adoro exceções, venho compartilhar o que escutei de um homem das ciências exatas, engenheiro formado pelo ITA, profissional atuante e professor, que mesmo aposentado ainda ajuda na correção de teses de alunos, e que mesmo antes de eu nascer andava às voltas com a prima da minha mãe, com quem se casou e constituiu família: aqueles seis irmãos, dentre os quais o mais velho era o seu avô e o mais novo meu sogro, que foi pintor, gravurista e seminarista na juventude, desenvolveram uma consciência espiritual que poucos alcançam nesta vida. Relatou acontecimentos como a filha que ardia em 39 graus de febre, mas que após ter sido visitada pelo avô e dele ter recebido imposição de mãos, teve a temperatura rapidamente reestabelecida em 36,5 graus.

O meu avô, lembro-me bem, era regularmente visitado por pessoas em busca de coisas perdidas... certavez foi visitado por policiais, que quiseram saber como é que ele tinha achado a localização de um carro roubado. "Responso", que era como ele chamava as consultas que fazia com o pêndulo, foi a resposta aos incrédulos policiais.

A caridade, disse-me o homem das ciências exatas, é um dos caminhos mais certeiros para se chegar à espiritualidade superior e aqueles seis irmãos a tinham em abudância, eram capazes de tirar a roupa do corpo para ajudar a quem precisasse.

Esse pequeno relato foi extraído de uma conversa proporcionada por uma comemoração de Bodas de Ouro, aqueles cinquenta anos de convivência conjugal que hoje se encontra em vias de extinção, em tempos onde companheirismo, amizade e carinho parecem algo que a cada dia anda menos em sintonia com o que se costuma chamar de atração entre sexos opostos.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Assédio Moral

Assédio Moral: em 2008, 369 trabalhadores já foram à Superintendência Regional do Trabalho, em Curitiba, alegando terem sido vítimas dessa prática.

"De acordo com o professor Raphael Di Lascio, da Universidade Tuiuti, os casos mais comuns de assédio moral são: ser alvo de fofoca ou intriga, deixar de receber informações pertinentes ao trabalho, ser isolado do grupo, receber metas impossíveis e ter a competência questionada.
O desembargador federal do trabalho Dirceu Buyz Pinto Júnior esclarece que o assédio moral geralmente acontece por duas diferentes razões: para conseguir um aumento de produtividade ou para forçar a demissão".

Excertos de matéria publicada no jornal Gazeda do Povo, de 24.10.2008.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Difamação Virtual, Indenização Real.

"O Superior Tribunal de Justiça manteve a indenização contra homem que difamou ex-namorada por e-mail".

"Um homem que divulgou mensagens eletrônicas difamando uma ex-namorada, referindo-se a ela como “garota de programa”, não terá o recurso especial julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Com isso, fica mantido o acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), que o condenou a pagar uma indenização por danos morais no valor R$ 30 mil, mais juros. A decisão é do juiz convocado Carlos Fernando Mathias.

A mulher alegou que recebeu diversas ligações telefônicas com o objetivo de contratá-la para a prática de programas sexuais. Ela declarou que o fato ocorreu em virtude da publicação de e-mails divulgando seu nome, profissão, telefone e faculdade, junto com a fotografia de uma mulher em posições eróticas. Diante da situação, passou a ser incomodada pelos telefonemas e boatos que a taxavam de “garota de programa”. Ela, inclusive, teve de se retirar do clube ao qual era associada.

Em uma ação cautelar de exibição de documentos movida contra o provedor da mensagem, a mulher obteve a informação de que o correio eletrônico pelo qual foram enviados os e-mails pertencia ao ex-namorado dela e que a assinatura do provimento da internet pertencia ao irmão deste. A partir daí, requereu a condenação de ambos ao pagamento de indenização pelos danos morais sofridos.

Em primeira instância, a sentença condenou os irmãos ao pagamento de indenização no valor de R$ 17 mil. Na apelação proposta perante o TJRS, a ação referente ao ex-cunhado foi extinta por ilegitimidade passiva, sob o entendimento de que ele foi apenas o contratante do serviço utilizado e não o remetente. E manteve o julgamento com relação ao autor do e-mail e elevou o valor dos danos morais para R$ 30 mil. A defesa pretendia levar a discussão ao STJ por meio de um recurso especial, pretensão indeferida pelo tribunal gaúcho.

Mas o agravo de instrumento foi rejeitado pelo relator, juiz convocado Carlos Mathias. Para ele, não foram atendidas exigências processuais para este fim. Além disso, para apreciar a questão seria necessário analisar o conjunto de provas e fatos, o que é proibido ao STJ fazer em razão da sua Súmula 7".


A notícia refere-se ao julgamento do Ag 848362/RS.

http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=89658

terça-feira, outubro 21, 2008

Claras, Franciscas e Marias



A Paraíba e a sua capital João Pessoa surpreendem. E para melhor, o que faz toda a diferença, bom que se frise. Foi por lá, na capital, que me deparei com o Mosteiro de São Francisco, um lugar que vibra em certa aura que nos remete para algum lugar mais além, talvez para o passado que construiu aquele presente. Ao percorrer os corredores dos andares superiores, que abrigavam os claustros da ordem dos religiosos, hoje ligeiramente modificados e ampliados, pode-se vislumbrar que não obstante o rigor do fechar-se para o mundo, os arredores são indicadores de uma escolha privilegiada, onde a natureza abundante até hoje impressiona. O aroma que rescende, quando o vento adentra por algumas janelas, dá a conhecer que jasmins habitam o jardim que se deixa entrever pelos vãos inundados de sol, se não sempre, intensamente em dias de inverno típico, deveras ameno pelas redondezas das zonas tropicais equatorianas.

Há um confronto entre a ideologia do claustro, que se fecha para o mundo externo em busca da divindade por vias de interiorização, e a beleza que adentra do mundo afora, que espreita por todos os espaços: janelas, portas e arcadas que circurdam o pátio central, local onde eram praticadas orações, cânticos e meditações.

A Ordem dos Franciscanos teve o seu contra-ponto feminino através de Santa Clara, que fundou a Ordem das Irmãs Clarissas. Conta a lenda católica que dos olhos de São Francisco, ao cortar os cabelos da jovem Clara de Assis, escorreram lágrimas, tamanha era a beleza daquela que se tornaria conhecida na posteridade como Santa Clara.

Para alguns, entretanto, o movimento ascético, que encontrava ressonância no discurso dominante católico, era embuído, em alguns casos, de um sentido oculto, que encobria a rebeldia das jovens da época a certas regras vigentes, o casamento arranjado, por exemplo.
Dentre as inúmeras santas católicas que se destacaram por suas intensas penitências, encontram-se as Santas Wilgefortis, Catarina de Siena e Maria Madalena de Pazzi.

Leituras atuais de comportamentos idos podem sugerir que muitas práticas de jejum extenuante, valorizadas e enaltecidas por uma certa ótica, como a vigente na Idade Média, podem corresponder ao que se entende, atualmente, por quadros de anorexia crônica. A "Santa Inquisição", como hoje se sabe deveras pecadora de outrora, não deixou de notar o fato e se não deu às suas observações a interpretação conferida por Freud, buscou a que lhe era habitual: enquadrar o indomável, o desconhecido e o saber contrário aos ideais professados pela ordem vigente ou como manifestação divina ou como de natureza demoníaca, o que abria um leque para a toda a sorte de maneiras de eliminar o que estava a incomodar a ordem estabelecida, onde a rejeição tanto da beleza como do enaltecimento do ego estavam dentre os ideais que se encontravam no topo da escala de valores, compondo o caleidoscópio que dava a visão de mundo de então.

Arriscaria a propor, o que é endossado nos textos referidos ao final, que menos se altera a estrutura central de certos comportamentos humanos e muito se modificam as formas de se interpretar e entender esse mesmo que se repete. Parece-me que há inevitáveis aproximações de descrições de tais efeitos, quanto à vivacidade que se instala a partir de um estágio já avançado da anorexia nervosa, com o estado de êxtase que seguidores da ideologia "Vivendo de Luz" descrevem em seus relatos. A diferença é que a proponente da prática não encara uma dieta de pouquíssima ingestão não só de alimentos como de líquidos como algo patológico ou de caráter punitivo, mas caminho de iluminação: "Quando fui orientada pela primeira vez a contar minha viagem pessoal de libertação da necessidade de consumir alimentos graças ao poder Divino, não tinha idéia de que o livro se tornaria tão popular e seria publicado em tantas línguas" (Prefácio por Jasmuheen, autora de "Os embaixadores da Luz").

Cumpre-me dizer, por fim, que tais reflexões e aproximações não têm a pretensão de macular a santidade conferida a tantas mulheres que se dedicaram de corpo e alma ao ofício divino aqui na terra, principalmente porque, até hoje, desconheço alguma explicação científica para justificar fatos como, por exemplo, a incorrupção de corpos, como no caso de Santa Maria Madalena de Pazzi. E frente ao desconhecido, o mínimo que se requer é prudência e respeito. Se alguém souber dar razão ao milagre, cartas à redatora.

Veja mais em:
www.gatda.psc.br/anorexia.htm - 79k -
www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44462002000300011&script=sci_arttext - 23k
www.redeceppan.com.br/artigos/08.07.15/08.07.15.htm - 30k -
es.wikipedia.org/wiki/Wilgefortis - 39k -



"Em 1212, a jovem Clara de Assis seguiu o atraente exemplo de Francisco e viveu, dentro da clausura e na contemplação, o ideal de pobreza evangélica. Surgiu, assim, a Ordem das Clarissas, ou a Segunda Ordem Franciscana.
Santa Clara nasceu em Assis, Itália, por volta de 1194, numa família rica e nobre. Seus pais chamavam-se Favarone e Hortolana, sendo Clara a filha primogênita. Com Inês e Beatriz, suas irmãs menores, que mais tarde também entrariam no Mosteiro de São Damião, Clara esforçava-se no amor a Jesus e sentia em seu coração o chamado para segui-lo.

Clara sonhava com uma vida mais cheia de sentido, que lhe trouxesse uma verdadeira felicidade e realização. O estilo de vida dos frades a atraía cada vez mais.
Depois de muitas conversas com Francisco, aos 18 de março de 1212, (Domingo de Ramos), saiu de casa sorrateiramente em plena noite, acompanhada apenas de sua prima Pacífica e de outra fiel amiga, e foi procurar Francisco na Igrejinha de Santa Maria dos Anjos, onde ele e seus companheiros já a aguardavam.
Frente ao altar, Francisco cortou-lhe os longos e dourados cabelos, cobrindo-lhe a cabeça com um véu, sinal de que a donzela Clara fizera a sua consagração como Esposa de Cristo. Nem a ira dos seus parentes, nem as lágrimas de seus pais conseguiram fazê-la retroceder em seu propósito. Poucos dias depois, sua irmã, Inês, veio lhe fazer companhia, imbuída do mesmo ideal. Alguns anos após, sua mãe, Ortulana, juntamente com sua terceira filha Beatriz, seguiu Clara, indo morar com ela no conventinho de São Damião, que foi a primeira moradia das seguidoras de São Francisco.
Com o correr dos anos, rainhas e princesas, juntamente com humildes camponesas, ingressaram naquele convento para viver, à luz do Evangelho, a fascinante aventura das Damas Pobres, seguidoras de São Francisco, muitas das quais se tornaram grandes exemplos de santidade para toda a Igreja.
As Irmãs Clarissas vivem um estilo de vida contemplativa, sendo enclausuradas. Quer dizer que não têm, normalmente, uma atividade pública no meio do povo, dedicando-se mais à oração, à meditação e aos trabalhos internos dos mosteiros".

www.franciscanos.org.br/nossaorigem/especiais/santa_clara2003/notas/santaclara.htm

O "Conjunto São Francisco", em João Pessoa, é um dos mais relevantes complexos de arquitetura e arte barroca no país. Concluída em 1770, a Igreja de São Francisco abriga, também, o Claustro da Igreja de São Francisco".

sábado, outubro 18, 2008

Roji




Nunca te esqueças
que o caminho do chá
não é nada mais que isto:
aquecer a água,
preparar o chá e bebê-lo.

Cha-no-yu to wa
Tada yu wo wakashi
Cha wo tatete
Nomu bakari nari
Moto wo shirubeshi


Segundo a antiga mitologia chinesa, em um lugar afastado, ao leste da costa chinesa, existem cinco ilhas onde os homens alcançaram a imortalidade e convivem em eterna harmonia. Ali reina a harmonia entre o homem e a mulher e também entre o ser humano e a natureza. Os imortais voam ao redor dos picos das montanhas, montados em grous. As ilhas se assentam sobre a carapaça de uma gigantesca tartaruga aquática que, ao lutar com um monstro marinho, perdeu duas das cinco ilhas. Essa história é conhecida como "O mito da ilha dos bem-aventurados", a qual cativou o Japão, que a adotou, mas reduziu as cinco ilhas a uma apenas, chamada P'eng-Iai ou Horaij-zan, em japonês. Um monte Horai, uma ilha Horai ou bem uma pedra Horai... as vezes aparece uma ilha de quatro grous ou das tartarugas como símbolo da Ilha dos bem-aventurados na jardinagem japonesa. Os grous e as tartarugas, em certa medida 'pars pro toto', se converteram em símbolos autônomos da longevidade.

Chá: elixir dos imortais e bebida que fomenta a vida em comum. A cerimônia do chá, 'sado o chado' em japonês, é uma criação puramente japonesa, ainda que tantas coisa no Japão tenham sua origem na China. A prática de tomar chá era conhecida de longa data no sul da China como um ato social e parte de um ritual estético-religioso, o qual era apreciado pelos chineses desde a época da dinastia Han (206a.C-220d.C), sobre tudo pelo seu poder curativo não só para o corpo, como para a alma, sendo-lhe atribuído poderes mágicos. A partir do século VII foi introduzido nos monastérios budistas como parte de um ritual religioso e que era utilizado na meditação por seu efeito excitante. Na opinião de Theodore Ludwing, o mais importante foi a associação do chá com poderes mágicos e com os imortais, da mitologia taoísta, e uma sensibilidade para a auto-disciplina e simplicidade naturais que se associaram aos efeitos adstringentes do chá verde. Durante a era Muromachi foram desenvolvidos todos os tipos de ritos e festas em torno do chá que até então haviam sido esquecidos há tempos. Festas passaram a ser organizadas, onde não eram apenas degustados diferentes tipos de chás, mas também bebidas alcoólicas, enquanto os convidados podiam entreter-se em conversas e jogos de amores, havendo também casas de banhos presentes. Com o passar dos séculos, elaborou-se no Japão um detalhado ritual ascético para preparar-se a cerimônia do chá, tornando-se um costume dos ricos comerciantes do começo do século XVI construírem pequenas cabanas no jardim de suas casas para darem lugar à cerimônia, cujo acesso se dá pelo roji, o caminho que conduz ao so-an, cabana com telhado de palha, caminho esse que alude ao espaço que se encontra mais além da vida humana, consumida por paixões e ilusões.

Excertos a partir de "El Jardin
Japonés', capítulos "Mitologia Taoísta e o "O Novo protótipo do jardim da época Momoyama: roji, o rústico jardim do chá", de Günter Nitschke, Taschen.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Alethéia e Ser-aí




"Pois falar da linguagem talvez seja ainda pior do que escrever sobre o silêncio". Martin Heidegger

"A linguagem está aí. É um emergente. Agora que emergiu, jamais saberemos quando, nem como começou, nem como era antes que fosse". Jacques Lacan

"O acolhimento singelo do sujeito interpretante como ideal (logo, capaz de ser acoplado por qualquer intérprete) esbarra no velamento da questão do ser-aí. Desvelando-se o sentido e a verdade do ser-aí, a pretensão da hermenêutica informada pela Filosofia da Consciência de chegar ao significado primevo dos entes somente pode ser feita singularmente e não mais de maneira universal. Sendo assim, a verdade é a verdade relativa do ser-aí. Diante dessa constatação, existe uma batalha contra a inautenticidade (a autenticidade mal-compreendida) e também em se rever a questão da hermenêutica jurídica; especialmente na abjuração das formas clássicas, legados da Filosofia da Consciência, porém ainda prevalente no senso comum teórico dos juristas".

A partir de um link entre Carnelutti e Heidegger, é possível "demonstrar que da compreensão do ser-aí não se pode fugir, por se estar envolvido desde sempre na existência (ontológica) do indivíduo. E essa existência se dá pelas (in)compreensões do mundo e do lugar ocupado (no mundo) e também pelas (in)compreensões que se tem delas próprias, deslizando de forma infinita no significante (LACAN). O referido movimento de ontologia fundamental demonstra que a interpretação do ser-aí é feita pelo ser-aí para o ser-aí, constituindo a existência de seu próprio alicerce. Sem se dar conta disso, incorre-se nos equívocos da Metafísica. Por outro lado, 'a questão do ser-aí envolve o reconhecimento da historicidade do próprio homem, por seu lugar na história que, todavia, o transpassa".

Excertos a partir da apresentação feita por Sylvio Lourenço da Silveira Filho, em discussão acadêmica do texto base denominado "Decisão Penal: a bricolage de significantes - capítulo 5: limites à epistemologia garantista", por Alexandre Morais da Rosa (http://lattes.cnpq.br/4049394828751754), parte do programa de pós-graduação em direito da Universidade Federal do Paraná - UFPR, disciplina 'crítica do direito processual penal'.

Alethéia diz respeito ao modelo binário heideggeriano de análise, que se dá através do jogo velamento-desvelamento dos significantes do ser-aí, que volta e meia pode ser observado flainando por aqui e acolá, de acordo com a rosa dos ventos...

sexta-feira, outubro 10, 2008

Integração da pessoa jurídica em consideração à pessoa física

Desconsideração ou quiçá integração da pessoa jurídica em consideração à pessoa física, é o que se pode dizer, leigamente e para propiciar um bom entendimento, da situação retirada das páginas da vida real, nesse mundo a cada dia mais virtual. A questão primordial a justificar a responsabilização de quem retira do público o seu ganha pão, mesmo quem se sente vítima de um terceiro estelionatário, justifica-se como sendo um dos riscos inerentes a quem aufere lucros do coletivo, como se fosse uma massa indissociada. Não se justifica, assim, quase sempre, as argumentações no sentido de que tais hipóteses, por não poderem ser previstas, isentam o prestador de serviços de sua responsabilidade objetiva, pelo simples fato de que coloca o seu produto no mercado. Aqui, veiculação de notícias. Se o site de relacionamentos ainda não tem como evitar que qualquer um use, anonimamente, o nome alheio e o exponha em público, isso é um problema a ser vencido pelo sistema... palavra mágica de nossos tempos: O SISTEMA!!! E quando você, tanto quanto eu, se sente impotente frente AO SISTEMA, uma boa dose de ânimo é defender-se de igual para igual, DE SISTEMA PARA SISTEMA, DE GENTE GRANDE PARA GENTE GRANDE. Como, poderia se perguntar o minúsculo consumidor lá nos confins de algum interior despovoado, onde as vozes dos pássaros ecoam mais profundamente... explico assim: pela defesa, em conjunto, dos direitos que nós, em conjunto, decidimos adotar como fazendo parte do nosso mínimo denominador comum... mínimo, porque tenho em grande estima e consideração a liberdade. Alguém poderia se perguntar se não foi a mocinha que, depois de descoberta, adotou essa teoria para justicar a sua intimidade anônima publicamente desvelada... sim, provas, a quem as incumbe... via de regra, para o lado mais forte da corda-bamba da vida, quando não se trata de uma relação equalitária entre partes.

A defesa, aqui, não é só da intimidade da mocinha, com o seu nome exposto a público, mas também da minha e da sua, que podemos nos ver em saias tão justas ou mais do que essa... privacidade é coisa séria, principalmente em tempos onde tudo nos espreita, a partir de uma realidade virtual e invisível...


"Yahoo! Brasil deve retirar do ar página de conteúdo inverídico"


"O site Yahoo! Brasil terá de retirar do ar página com conteúdo inverídico sobre uma mulher que ofereceria programas sexuais. A determinação foi mantida pela Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao não acolher os argumentos apresentados em recurso pela defesa da empresa virtual contra decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN).

Foi proposta ação de indenização por danos morais em favor de uma usuária da internet que requereu a desativação do site no qual é veiculado anúncio inverídico com ofertas de programas sexuais com sua pessoa, além de fotos pornográficas a ela atribuídas. O Juízo da 15ª Vara Cível de Natal determinou que a Yahoo! Brasil retire a página do ar sob pena de multa diária de R$ 200,00. O entendimento foi mantido pelo TJRN.

A empresa recorreu ao STJ, alegando que o site citado foi criado por um usuário da internet com a utilização de um serviço oferecido pela empresa Yahoo! Inc., em seu portal "http://yahoo.com", cabendo a essa empresa cumprir a determinação judicial questionada. Argumenta também que, por não ser sócia da Yahoo! Inc., mesmo no caso de desconsideração da personalidade jurídica daquela, não poderia ser chamada a responder à ordem judicial relativa à empresa americana.

Por fim, sustenta que, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, as sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas são subsidiariamente responsáveis pelo cumprimento das obrigações decorrentes da aplicação de suas normas. Defende a tese de que, na condição de sociedade controlada pela Yahoo! Inc. e integrante do mesmo grupo societário, não poderia ser diretamente responsabilizada por prestação devida pela controladora.

Ao proferir seu voto, o relator do processo, ministro Fernando Gonçalves, esclarece que a Yahoo! Brasil apresenta-se aos consumidores utilizando a mesma logomarca da empresa americana e, ao acessar o endereço trazido nas razões do recurso como sendo da Yahoo! Inc. - www.yahoo.com - , abre-se, na realidade, a página da Yahoo! Brasil. Diante desses fatos, o ministro conclui que o consumidor não distingue com clareza as divisas entre a empresa americana e sua correspondente nacional.

Ressalta ainda que, mesmo tendo o recorrido afirmado que a Yahoo! Brasil é sócia da Yahoo! Inc., quando a situação é inversa, não tem o poder de alterar as conclusões ali referidas, pois ambas, de toda forma, pertencem ao mesmo grupo econômico. Com esse entendimento não conheceu do recurso da empresa virutal e manteve a decisão que determinou a retirada do ar da página com conteúdo ofensivo à usuária da internet".

A notícia ao lado refere-se ao Resp 1021987/RN.

http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=89550

terça-feira, outubro 07, 2008

Emaranhados ao Luar



Velas vão e vem...
És caixeiro viajante,
Sou porto seguro...

A Praia do Jacaré é famosa pelo seu pôr-do-sol, mas é praia de água doce. Não é mar, mas o tem como seu destino inevitável... assim como o emaranhamento, que escolheu o luar, quando retratou o pôr-do-sol, no encadeamento dos dias que se seguem ininterruptamente, faça chuva ou sol, pela manhã, tarde ou noite...

Engatinhando pela Vida Afora


domingo, outubro 05, 2008

Dose Cavalar




Numa única imagem,
Minha homenagem
A quem tem muita coragem...

Descontração para relembrar a quem precisa tomar as rédeas da desatenção para consigo mesmo...

"A maioria das pessoas são subjetivas a respeito de si próprias e objetivas - algumas vezes terrivelmente objetivas - a respeito dos outros. O importante é ser-se objetivo em relação a si próprio e subjetivo em relação aos outros" - por Kierkegaard, citado por Boaventura de Santos Souza, 'A crítica da razão indolente - Contra o desperdício da experiência', Cortez Editora, prefácio geral, pág. 17.

E assim nos convoca Boaventura em sua introdução:

"Não parece que faltem no mundo de hoje situações ou condições que nos suscitem desconforto ou indignação e nos produzam inconformismo. Basta rever até que ponto as grandes promessas da modernidade permanecem incumpridas ou o seu cumprimento redundou em efeitos perversos. No que respeita à promessa de igualdade os países capitalistas avançados com 21% da população mundial controlam 78% da produção mundial e bens e serviços e consomem 75% de toda a energia produzida. Os trabalhadores do Terceiro Mundo do setor têxtil ou da eletrônica ganham 20 vezes menos que os trabalhadores da Europa e da América do Norte na realização das mesmas tarefas e com a mesma produtividade. Desde que a crise da dívida rebentou no início da década de 80, os países devedores do Terceiro Mundo têm vindo a contribuir em termos líquidos para a riqueza dos países desenvolvidos pagando a estes uma média por ano de mais de 30 bilhões de dólares do que receberam em novos empréstimos. No mesmo período a alimentação disponível os países do Terceiro Mundo foi reduzida em certa de 30%. No entanto só a área de produção de soja no Brasil daria para alimentar 40 milhões de pessoas se nela fossem cultivados milho e feijão. Mais pessoas morreram de fome no nosso século que em qualquer dos séculos precedentes. A distância entre países ricos e países pobres e entre ricos e pobres no mesmo país não tem cessado de aumentar.

No que diz respeito à promessa de liberdade, as violações dos direitos humanos em países vivendo formalmente a paz e a democracia assumem proporções avassaladoras. Quinze milhões de crianças trabalham em regime de cativeiro na Índia; a violência policial e prisional atinge o paroxismo no Brasil e na Venezuela, enquanto os incidentes raciais na Inglaterra aumentaram 276% entre 1989 e 1996, a violência sexual contra as mulheres, a prostituição infantil, os meninos de rua, os milhões de vítimas de minas antipessoais, a discriminação contra os toxicodependentes, os portadores de HIV ou os homossexuais, o julgamento de cidadãos por juízes sem rosto na Colômbia e no Peru, as limpezas étnicas e o chauvinismo religioso são apenas algumas manifestações da diáspora da liberdade.

No que respeita à promessa de paz perpétua que Kant tão eloquentemente formulou, enquanto no século XVIII morreram 4,4 milhões de pessoas em 68 guerras, no nosso século morreram 99 milhões de pessoas em 237 guerras. Entre o século XVIII e o século XX a população mundial aumentou 3,6 vezes, enquanto os mortos na guerra aumentaram 22,4 vezes. Depois da queda do Muro de Berlim e do fim da guerra fria, a paz que muitos finalmente julgaram possível tornou-se uma cruel miragem em face do aumento nos últimos 6 anos dos conflitos entre Estados e sobretudo dos conflitos no interior dos Estados. Finalmente, a promessa da dominação da natureza foi cumprida de modo perverso sob a forma de destruição da natureza e da crise ecológica. Apenas dois exemplos. Nos últimos 50 anos o mundo perdeu cerca de um terço da sua cobertura florestal. Apesar de a floresta tropical fornecer 42% da biomassa vegetal e do oxigênio, 600.000 hectares de floresta mexicana são destruídos anualmente. As empresas multinacionais detêm hoje direitos de abate de árvores em 12 milhões de hectares da floresta amazônica. A desertificação e a falta de água são os problemas que mais vão afetar os países do Terceiro Mundo... Um quinto da humanidade já não tem hoje acesso a água potável.

Esta enumeração breve dos problemas que nos causam desconforto ou indignação é suficiente para nos obrigar a interrogarmo-nos criticamente sobre a natureza e a qualidade moral da nossa sociedade e a buscarmos alternativas teoricamente fundadas nas respostas que dermos a tais interrogações... Max Horkheimer definiu a teoria crítica moderna melhor que ninguém. Segundo ele, ela é, antes de mais nada, uma teoria fundada epistemologicamente na necessidade de superar o dualismo burguês entre o cientista individual produtor autônomo de conhecimento e a totalidade da atividade social que o rodeia: 'A razão não pode ser transparente para consigo mesma enquanto os homens agirem como membros de um organismo irracional".

Política sã


"A sã política não deveria ter por objeto fazer avançar a espécie humana, que se move por impulso próprio, seguindo uma lei tão necessária quanto a da gravidade, embora mais modificável; ela tem por finalidade facilitar sua marcha, iluminando-a". Augusto Comte, 'Système de politique positive', Apêdice III, 'Plan des travaux scientifiques nécessaires pour réorganiser la société, 1828, p. 95.

Auguste Comte é o sociólogo da unidade humana e social, doutrinário da ciência positiva e da ciência social. Propôs, em seu livro 'Opúsculus', que da mesma forma como não há liberdade de consciência na matemática ou na astronomia, não pode haver também em matéria de sociologia. O ponto de partida do pensamento de Comte é uma reflexão sobre a contradição interna da sociedade do seu tempo, entre o tipo teológico-militar e o tipo científico-industrial. Auguste Comte deseja ser, ao mesmo tempo, um cientista e um reformador. Qual é, pois, a ciência que pode ser certa nas suas afirmações e, ao mesmo tempo, imperativa, para um reformador... Incontestavelmente, seria uma ciência sintética a qual parte de leis mais gerais, das leis fundamentais da evolução humana, em busca de um determinismo global que os homens pudessem utilizar segundo a expressão positivista: uma 'fatalidade modificável'.

Montesquieu e Tocqueville atribuem uma certa primazia à política, à forma do Estado; Marx, à organização econômica. A doutrina de Auguste Comte se baseia na idéia de que toda sociedade se mantém pelo acordo dos espíritos. Só há sociedade namedida em que seus membros têm as mesmas crenças.

A filosofica de Comte pressupõe três grandes temas.

O primeiro é o de que a sociedade industrial, a sociedade da Europa ocidentral, é exemplar e se tornará a sociedade de todos os homens, cujos fundamentos são a condição da prosperidade e do poder. Ainda não está provado que Auguste Comte estivesse errado quando acreditava que certos aspectos da sociedade industrial da Europa tinham uma vocação universal.

O segundo é a dupla univerdalidade do pensamento científico. A vocação universal do pensamento positivo, que segue os métodos adotados pela espécie humana, quando os êxitos atribuídos à ela se tornam visíveis. No momento, porém, em que se começa a pensar positivamente em astronomia ou física, não se pode pensar de outro modo em termos de política ou de religião. O método positivo deve ser estendido a todos os aspectos do pensamento. Uma vez que a generalização do método positivo é evidente, estaremos condenados, então, a reproduzir em sociologia, moral ou em política o método da matemática e da física... o que se pode dizer é que esse debate continua, nas palavras de Raymond Aron.

O terceiro tema fundamental do pensamento de Comte é o do 'sistema de política positiva'. Como é possível explicar a diversidade, se a natureza humana é basicamente a mesma, se a ordem social é basicamente a mesma, de acordo com a sua concepção de que a história da humanidade é a história do espírito enquanto devenir do pensamento positivo ou enquanto aprendizado do positivismo pelo conjunto da humanidade.

Para Comte, a oposição entre operários e empresários é secundária, na medida em que o liberalismo não é a essência da nova sociedade formada com a partir da revolução industrial, mas um elemento patológico, um momento de crise no desenvolvimento de uma organização que será muito mais estável do que aquela fundada no livre jogo da concorrência.

A oposição essencial entre liberais e socialistas está no fato de que os primeiros acreditam na conciliação final dos interesses, e os segundos admitem o caráter fundamental da luta de classes.

Comte defende a propriedade privada e se opõe ao socialismo, por entender que a civilização material só se pode desenvolver se cada geração produzir mais e mais do que é necessário para a sua sobrevivência, transmitindo assim à geração seguinte um estoque de riqueza maior do que o recebido da geração precedente. A capitalização dos meios de produção é característica do desenvolvimento da civilização material, e leva à concentração, mas uma concentração que não deve determinar o caráter público da propriedade. Comte é, em verdade, indiferente à oposição entre propriedade privada e propriedade pública, porque considera que a autoridade, econômica ou política, é sempre pessoal. Em toda a sociedade, são homens, em pequeno número, que comandam. Um dos motivos da reivindicação da propriedade pública é a crença, bem ou mal fundamentada, de que a substituição do regime de propriedade modificaria a estrutura da ordem social e Comte é cético a esse respeito. Acredita que são sempre os ricos que detêm a parte do poder que não pode deixar de acompanhar a riqueza, e que é inevitável em qualquer ordem social. A propriedade privada é necessária, inevitável, indispensável; mas só é tolerável quando assumida, não como o direito de usar e abusar, mas como o exercício de uma função coletiva por aqueles que a sorte ou o mérito pessoal designou para isso.

Comte assumiu uma posição intermediária entre o liberalismo e o socialismo, podendo-se dizer ser um organizador que deseja manter a propriedade privada e transformar seu sentido, para que, embora exercida por alguns indivíduos, tenha também uma função social, concepção que não se afasta muito de certas doutrinas do catolicismo social.

Feitas essa breves interlocuções acerca de algumas nuances do pensamento do pai do positivismo, quem sabe seja de bom alvitre endossar um pedido de amém, de que assim seja, aos votos do imperativo categório que a nossa sociedade 'brasiliana' de hoje nos impõe para esse cinco de outubro de dois mil e oito. Assim, que a nossa obrigação seja cumprida de bom grado, em prol e benefício de quem este mundo habita e, de uma forma ou de outra, luta com afinco para não só fazer parte do que se conhece por sociedade, mas manter-se nela...

Excertos a partir de "As Etapas do Pensamento Sociológico", por Raymond Aron, Martins Fontes Editora, fls. 84-101.

Raymond-Claude-Ferdinand Aron (1905, 1983) nasceu na França e pode ser considerando um filósofo, um sociólogo e um comentador político, que recebeu seu doutorado em filosofia da história em 1930 na 'École Normale Supérieure'. Sua postura humanista e liberal fazia contra-ponto a Jean Paul Sartre e seu existencialismo marxista. Foi colunista influente do jornal "Le Figaro" e do semanário "L'Express", onde escreveu até a sua morte.

veja mais em http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u618.jhtm

quinta-feira, outubro 02, 2008

Alice no País das Maravilhas



Esse post aguardava pacientemente e, assim que recebeu a bandeirada de partida, veio aqui ansioso para compartilhar a foto da Alice, da Thaísa e do Brady, retratando um pedacinho da história que começou lá no País das Maravilhas, made in USA. Foi lá que a amiga da família, que nos foi apresentada pela minha irmã, arriscou concretizar seus sonhos. Hoje habitam em outras paragens, seguindo o rumo do nome-do-pai, que os guiou para um lugar um pouco mais central, nesse nosso mundo redondo, que dá voltas, como se ali mais adiante a grama pudesse nascer mais verdinha, mas não mais, certamente, do que em qualquer lugar em que seja regada com água, sol, amor e muito carinho... para que, então, o fruto desse amor possa ir lá colocar o seu pezinho... ;))

terça-feira, setembro 30, 2008

Memórias sentimentais de João Miramar, para histórias de vidas relembrar

João Miramar já esteve por aqui antes, num certo março de 2007. Oswald de Andrade, com o seu crackar, verbo deveras irregular, também... assim como uma certa poesia que batizei de miramar, que de tantas terminações em ar, - a rima mais pobre da nossa língua portuguesa, se bem que para mim pobreza ou riqueza é questão de know-how,- teve o dom peculiar de deixar certos leitores sem ar... sensação que se aproximava da busca do combustível essencial que impele a seguir em frente, sempre com mais urgência quando a realidade vigente, cambaleante, começa a se desfacelar e se inicia o caminhar à beira do não-sonhar. E hoje aqui retornam todos, nesse incerto setembro de 2008...

Dentre muitos dos sonhos americanos, talvez o mais caro seja o ter casa para morar... oxalá possam os primos do sul também desse sonho compartilhar, livres dos efeitos não só do crackar*, mas principalmente do crackear...

Memórias Sentimentais de João Miramar


Eu empobreço de repente
Tu enriqueces por minha causa
Ele azula para o sertão
Nós entramos em concordata
Vós protestais por preferência
Eles escafedem a massa

Sê pirata
Sede trouxas

Abrindo o pala
Pessoal sarado.

Oxalá eu tivesse sabido que esse verbo era irregular.


(verbo crackar inventado por Oswald de Andrade, baseado no crack da Bolsa de Nova York em 1929, que nesse setembro de 2008 retorna às luzes da ribalta...)

fontes: www.wikedia.com e http://www.lumiarte.com/luardeoutono/oswald/index.html.

segunda-feira, setembro 29, 2008

Alçando, vôo





Alçando eu vôo-
A sabedoria é livre,
Com você me vou!



Tida em alguns lugares como sinal de mau agouro, para os gregos a coruja representava a sabedoria. De hábitos mais noturnos que diurnos, a coruja vive só, em casal ou com outras da mesma espécie, mas não convive bem com outros pássaros, devido ao instinto de sobrevivência. Uma das características da ave é manter, em geral, a constância do acasalamento, cuja côrte se dá com o oferecimento, pelo macho, de uma caça à fêma que, se aceita, tem o dom de formalizar a união.

Ainda em 2008, nesse Brasil varonil, vôo tem acento... a partir de 2009, esse vôo será arcaico, pois passará a voar sem chapéu, de cabelos ao vento, em consonância com as novas regras ortográficas da língua...

domingo, setembro 28, 2008

Pinha Pinheiro



Pia o sabiá...
Minha terra tem Pinheiro!
Gralha'o meu piá...

Piá, expressão largamente utilizada no Paraná para designar moleque, menino, guri, que provém do vocábulo "piau" = pequeno, na língua tupi-guarani.

O Pinheiro, árvore nativa da minha terra Paraná, deu o nome da capital Curitiba, que em tupi-guarani significa terra de muito pinhão. As árvores, sabiam as gentes nos tempos do Brasil colonial, eram plantadas pelas gralhas azuis, hoje em extinção, que escondiam as pinhas na terra, para garantir o alimento no inverno... entretanto, as aves azuis nem sempre achavam o local onde haviam colocado a guarnição, contribuindo, assim, sobremaneira para compor a paisagem tão tipicamente local.

Eira, Beira e Tribeira

Jardim de Anil


Plantei grama azul-
Floriu tapete d'anil,
Que aos sem eira beira...

Haikai em homenagem a Macabéia, personagem de "A hora da estrela", de Clarice Lispector, uma sem eira nem beira iluminada.

A expressão 'sem eira nem beira' foi largamente utilizada nos tempos do Brasil colônia para designar a população de poucas posses, numa época em que a arquitetura possibilitava identificar-se os mais abonados em consonância com a estrutura da casa, que era dividida entre eira, beira e tribeira, possuindo a da classe dominante os três elementos, enquanto careciam os pobres da eira e da beira... ou seja, moravam, provavelmente, em tribeiras sem teto... atualmente a expressão 'sem eira nem beira' também remete a quem segue sem rumo pela vida afora.

sábado, setembro 27, 2008

Noite em Festa





Quando a noite chega,
São reflexos de nós dois
A guiar meus sonhos...


"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida".
Clarice Lispector, citada em www.hajahojeparatantoontem.blogspot.com, da 'baixinha' Geórgia ;))

quinta-feira, setembro 25, 2008

Auto & Pré-Conceito Sociedade Anônima de Si Mesma


"Eu me consideraria o mais ditoso dos mortais se pudesse fazer com que os homens se curassem de seus preconceitos. Chamo de preconceitos não o que nos faz ignorar certas coisas, mas o que nos leva à ignorância de nós mesmos".

L'espirit des lois, prefácio, por Charles-Louis de Secondat, Barão de Montesquieu

quarta-feira, setembro 24, 2008

Cavalgando em Coração





Convite à meditação:

Bravos cavaleiros,
Navegar com o coração
É mais que preciso!

terça-feira, setembro 23, 2008

Saia da Bolha



Saia da Bolha poderia ser a saia de uma menina que algum moleque chama de 'bolha'... mas em verdade essa bolha foi o nome dado a um dos ícones da locomoção de nossos tempos, um meio de transporte moderno conhecido por veículo auto-motor, que em geral é movido por vestígios de gigantes que outrora já pisaram por esse nosso mundinho, um ouro preto chamado petróleo.

Estava eu na última sexta a me locomover em minha bolha prateada, quando dela avistei um amigo de bom tempo sentado na beira do caminho, que fica bem no meio de uma agitada encruzilhada, especialmente na hora do rush de fim-de-tarde. O 'point' se transformou, paulatinamente, num dos mais novos ícones da galera descolada da minha cidade curitibana, quando a bebida da hora for um café, machiato, expresso ou como preferir o seu paladar.

Goura é amigo de outros carnavais, especialmente de um onde a música que mais rolou não foi samba, mas mantra- um deles, o mais famoso e conhecido, começa com HARE KRISHNA, HARE KRISHNA, HARE HARE! Atualmente divulga os ensinamentos do yoga em sua academia, que nos dá as boas-vindas com um certo jardim ao natural, a enfeitar a calçada nada tradicional.

Esse encontro fora do senso comum só poderia dar mesmo em samba: o samba que convidava os transeuntes a sair da bolha... Coisa de meia-hora antes, conversava eu com outro grande amigo sobre o tema bikes&afins, onde falávamos que não basta apenas querer sair da bolha, se faltam meios de transportes coletivos seguros para quem se atreve a mudar o status quo. Foi assim que descobri que a razão do movimento era justamente esta: não colocar mocinhos e mocinhas, especialmente essas últimas, em saias justas, possibilitando-lhes uma alternativa segura para se deslocarem em seus dia-a-dia...

Pretender abandonar carros e meios de locomoção tradicionais requer uma caminhada de mãos dadas com mudanças que vão além da escolha pessoal de cada um - é preciso metrôs onde especialmente as mocinhas possam andar de saia sem a sensação de serem alvo de situações embaraçosas que já lançaram alguns movimentos, em cidades outras, para que os vagões fossem separados entre usuários homens e usuárias mulheres...

Andar de bicicleta, num fim de tarde de inverno curitibano, pode ser uma procura certeira por um final-de-semana embaixo das cobertas, à espera da passagem dos espirros, enquanto o corpo se recupera... para evitar tais sequelas, é necessário muito preparo e um bom agasalho, coisa difícil de se ter sempre à mão, quando se vive numa cidade que tem o dom peculiar de nos brindar com as quatro estações do ano, num único dia apenas...

Disse-me o Goura,- fazendo-me lembrar das peripécias de uma amiga, antes Cinara e hoje Chaitanya Mayi devi dasi, que quando morou em Amsterdan ía para as festas de fim-de-noite como se fosse uma montanha de roupas ambulantes em cima de duas rodas movidas a muitas pernocas, que depois se permitiam a liberdade da dança em mini-saias, enquanto a temperatura abaixo de zero esperava do lado de fora,- que em certos países da Europa muitos preferem bicicletar a se 'embobalhar' dentro de uma lata de sardinhas ou tubarões, a depender do tamanho do carroça ambulante!

E a melhor resposta que a providência me permitiu foi a foto que o acaso flagrou: um manifestante de mãos-ao-alto frente aos faróis que vinham alto, bem alto!

Post em homenagem ao Dia Mundial sem carro (22.9.2008), onde manifestantes de coragem pedalaram por alguns instantes nus, numa temperatura que não ultrapassava a marca de 15 graus, numa certa Curitiba, terra de muito pinhão e pião.

sábado, setembro 20, 2008

Trabalhos de amor perdidos



"As palavras simples e honestas são as que melhor falam ao ouvido da dor, e o Rei pode ser compreendido pelos seguintes signos: por vocês, belas, ignoramos o prazo e quebramos nosso juramento. A sua formosura, caras damas, veio nos deformar, conduzindo nossa disposição até mesmo para o lado oposto de nossas intenções. E aquilo que nos parecia ridículo- na medida que o amor é cheio de impulsos inconvenientes-, nós quatro, alegres como crianças, saltitantes e fúteis, construímos formas, feições e figuras, variegadas em várias criaturas à medida que o olho vagueia pelos vários objetos que vê no seu olhar. Se a nossa presença, em trajes multicoloridos, empalhaçados, amorosamente relaxados, a seus olhos celestiais não mais condizia com nossos juramentos e nossa dignidade, foram esses mesmos olhos celestias testemunhas de nossos erros que nos incitaram a cometê-los. Assim é que, caras damas, o nosso amor sendo seu, os erros que o amor comete são igualmente seus. Nós com nós mesmos fomos falsos porque fomos falsos uma única vez- para sermos eternamente fiéis a quem nos faz ser ao mesmo tempo falsos e fiéis: vocês, lindas senhoritas. E assim é que a falsidade, em si mesma um pecado, purifica-se, transformando-se em virtude".

Trabalhos de amor perdidos, por William Sheakspeare, L&PM Pocket, tradução de Beatriz Viégas-Faria, pág. 129/130.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Poema Blue


Já desejei um poema branco,
Sem preconceito...
Mas só acompanhado pode vir ao mundo-
Foi no encontro do papel,
Quando jorrou preto no branco...

Hoje o poema é
Blue!
Azul com anil,
Encobrindo coral...

Amoral é te descolorir,
Retirar teus tons...
Não sentir os sons,
De duas bocas a sorrir :))

quarta-feira, setembro 17, 2008

Sorriso a mar-aberto



David Bowie tem uma música chamada Sound and Vision, em que ele nos conta, num ritmo perfeito, que a cor do quarto onde ele vai morar, com a sua solitude, é azul, azul... e como ele, reforço o convite para a reflexão sobre o presente do som e da visão. E meu desejo é que esse meditar seja acompanhado de um lindo sorriso, blue, blue, mas não depressivo, como pode sugerir a expressão na língua inglesa... que esse 'smile' seja largo, com covinhas nada mais do que naturais, intocadas pela devastação que as decepções podem causar à flor da pele!

Uma versão visual interessante da música pode ser vista em http://www.youtube.com/watch?v=PZY_G4sCZM8

Enjoy, Smile!

terça-feira, setembro 16, 2008

Coral para Cora Coralina




Cora Coralina
És coral de caracóis!
Mar, beiras à bessa...*

À BEÇA

Inicialmente redigida à Bessa, a expressão derivou das qualidades argumentativas do jurista sergipano Gumercindo Bessa, contemporâneo de Rui Barbosa.
Veja mais em http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=112156

Na segunda versão, És coral de mil sóis;
Na terceira, És coral à luz do sol.

* "Me beiras à bessa" viroum num primeiro momento, me beir'à bessa, para chegar à concisão da métrica do haikai. Se por acaso você achar que assim não vale, invoqieo um famoso letrado da terrinha, de nome Nelson Rodrigues (se eu estiver errada,corrijam-me, por favor) que disse que no nosso português castiço a gente pode fazer samba do bom, na linha cruzada do tu e do você... ;)) Entretanto, após um breve período de elaboração, preferi a forma beiras à bessa, considerando que a poesia de Cora Coralina beira não só a mim, mas a todos que mergulham pelas veias delicadas de suas letras ;))

segunda-feira, setembro 08, 2008

Vai e vem nas ondas do mar



Canção do Hidrógrafo


"Se marcares, ao largo, o lampejo
De um farol a mostrar o caminho,
Saberás ser o nosso desejo
Que jamais tu navegues sozinho".


Barquinho no mar, Praia de Calhetas, foto por Luis Miguel Filipi


http://mergulhadorpro.com.br/

domingo, setembro 07, 2008

Revista do Brasil




Neste sete de setembro do ano de dois mil e oito, nada melhor do que repensar e revisitar a pátria amada, mãe gentil, desse Brasil que nunca pára de surpreender. Aqui, um mapa cartão-postal, numa formação insculpida nos arracifes de Porto de Galinhas. Que tal mergulhar nessas águas cristalinas e repensar certos conceitos, para seguir em frente mais com a cara dessa nossa gente, valorosa frente a tantos repentes que o coração da pátria só ressente?

É que de repente, não mais que de repente, no repente do repente, repentinamente, o repetir é feito água mole em pedra dura, um dia fura... enquanto isso, no bate que bate, será que um dia a história muda?

quarta-feira, agosto 27, 2008

Gabella Gazella Gabriella





Como XXI


"Una calma solenne,
Un silenzio intenso,
Sembra un lago di fiaba, allora,
il mio lago. S'è vestito
d'una sua desolazione squisita".

Carlo Linati

"In certi momenti,
Il lago ha struggente armonia
d'una pittura giapponese.
Una rosa, preziosa come una
fantasia orientale,
diffondi il suo delicato profumo...
É l'odore del lago".


"Uma calma solene,
Um silêncio intenso,
Parece um lago de fábula, então,
O meu lago. Vestiu-se
de uma sua intensa desolação.

Em certos momentos
O lago tem a harmonia imensa
de uma pintura japonesa.
Uma rosa, preciosa como uma
fantasia oriental,
difunde o seu delicado perfume...
É o'lor* do lago".


Esse post está aqui, por hora, apenas para dar a conhecer que quem casa, quer casa! Que tal inspirar-se em www.gabelgroup.com e num certo lago, belo Como* só ele?

*O'lor = o olor, variante poética de odor... na primeira versão preferi "cheiro", por ser mais intimista e infinitamente mais utilizado no português falado, se bem contabilizam os meus ouvidos... mas já que poesia requer um certo alo de sofisticação, vamos deixar por hora esse o'lor, para aliviar a nossa dor... que com apóstrofo, fica mais próximo de flor ;))



Carlo Linati (1878-1949): escritor italiano e crítico literário, conhecido pela sua novela "Duccio da Bontà (1912). Ele também escreveu histórias autobiográficas, alegóricas e de nuances psicológicas e fatídicas. Em "Estória dos animais e dos fantasmas (1925), ele criou e desenhou, a partir de referências de um mundo animal e fantástico, como "Fábula Marinha", que conta uma história sobre um mundo marinho onde um pequenino mas esperto peixinho devora um tubarão. (www.answers.com/topic/carlo-linati - 28 k)

"Linati Schema for Ulysses" é como ficou conhecido o esquema formulado por James Joyce, em 1920, para ajudar o seu amigo escritor, Linati, a entender a estrutura fundamental do livro. A divisão em duas tabelas menores tem sido utilizada para ajudar a facilitar a leitura. Referências a partir de "en.wikipedia.org/wiki/Linati_schema_for_Ulysses - 31k".


*Referência ao Lago Como, Itália. (http://www.gabelgroup.com/ita/showroom.php - Coleção Como XXI).

sábado, agosto 23, 2008

A DNA NADA PELA VIDA ÁVIDA



Montagem feita a partir de uma foto que retrata uma grande amiga minha, nascida em Manaus e que adotou Curitiba, chamada Aracy Pinheiro, dançando Flamenco...

Algumas coisas você pode negociar com o destino,
Outras vêm de presente...
Antes que você as deseje,
Apresentam-se à sua porta.

Milagre da vida a se realizar^^^^
De cada pedra, saber tirar,
Toda a luminescência, que o só DNA
Consegue, fielmente, lapidar...

Se fiel tem algo a ver com féu,
Só com carinho e muito amor, amor,
É que quero teu amargor,
Adoçar bem lá no céu...

Da boca rouca,
Um beijo com ardor
Para aliviar a nossa dor...

sexta-feira, agosto 22, 2008

Cinde, Cindi, Cinde, Cinderela!



Foto antecipando algum escrito em homenagem ao encontro da Cindi, cujo nome foi escolhido por ser diminutivo de cinderela, numa conversa ao pé-de-ouvido ;))

Cinde, Cindi, Cinde!
Se não te decides,
És tu a cindida...
Clarabela Cinderela,
Sou preto no branco...

quinta-feira, agosto 21, 2008

Às vezes...


em pensamento, eu rondo a cidade, a 'te' procurar...querendo saber onde você está, como anda a sua vida, se ainda vive pelas bandas de cá ou se já sorri, como sempre feliz, pelas bandas de lá. De um jeito ou de outro, quero que saiba que por aqui você sempre está. Meu anjo protetor, Helena, de tez morena feito o seu sobrenome Nogueira. Eu a convenci a largar o emprego para ser a minha segunda mãezinha, antes mesmo de fazer um ano, quando lhe extendi os bracinhos sorrindo, no primeiro momento em que a vi. E daí em diante foram nove anos de cuidado e carinho mútuo. Não ficaram fotografias, de repente a máquina se foi e as prioridades foram deixando de registrar o que sempre esteve presente e ficou para sempre em meu coração. Meu anjo, minha fada, minha doce dançarina da caixinha de música que ainda toca em mim, você foi a responsável por despertar a minha tenacidade em buscar a chave certa, quando assim me distraía com um molho de chaves frente a uma fechadura, fazendo-me sorrir sempre que conseguia encontrar o encaixe que permitia desvendar o mistério do abrir e do fechar portas...

Foto:
http://flickr.com/photos/7869043@N02/2043065433/

segunda-feira, agosto 18, 2008

Destinos do "Bruneco"









Era uma mocinha, um mocinho, uma patinha, um patinho, um passarinho e uma avezinha, cujos destinos se entrelaçavam nas mãos de um menino, que escrevia a história da sua vida, desde o primeiro dia em que nasceu.

*Bruneco, uma brincadeira com o nome do seu Bruno Felipeco! ;))

domingo, agosto 17, 2008

Flores pela manhã


"O idioma nipônico, por vezes se assevera, é único, sem pai, sem filho e sem irmão. De certo modo, o Japão, na conquista do desenvolvimentoe do progresso, também se pauta por desempenho peculiar, ainda que possa ter imitadores, como os 'tigres' que procuram plagiar-lhe o civismo, o valor e a virtude, na caça do mistérico DNA do desenvolvimento, como ocorreu com as duas economias chinesas, ambas organizadas e comandadas literalmente por soldados de longa e sofrida guerra, pouco interessando se ganha ou perdida. Aliás, a formação de quem repôs em pé o Império do Meio é essencialmente nipônica: o jovem Mao se modelou nos samurais e não na escola soviética, onde estudou Xancaixec. A forja nipônica de Mao fora superior à dura disciplina do soldado soviético. Pôr novamente a China de pé não seria obra fácil ou expedita, mas aqui não cabe valorizar ou desvalorizar a figura de Mao. Os contrastes e os confrontos da vida têm números surpreendentes, mesmo sem levar água demasiada ao moinho de Chesterton, mestre abusivo do paradoxo".

(Samurais e Bandeirantes, Contrastes e Confrontos inexoráveis, Virgílio Balestro, Ed. Kaygangue Ltda., págs. 96-97).

Foto tirada em 17.8.2008, Praça do Japão, Curitiba, Paraná.

* Tchang Kai-Chek e Jiang Jieshi são algumas das outras grafias que se encontra para a transliteração do nome do general vencido por Mao. A opção pelo nome à portuguesa, ao estilo camoniano, é uma dentre tantas provocações que o livro sutilmente apresenta, em busca de despertar a civilidade entorpecida nas terras de Macunaíma. As melhores aulas ao aluno interessado, do meu grande mestre, que se tornou gigante a partir da sua humildade, é o que carinhosamente lhes confessa a aluna para sempre 'tiete' ;))

sábado, agosto 16, 2008

Cielo Dourado


Flores por decreto*, ningém é de ferro, as flores de plástico não morrem! Se você entende português e é brasileiro, essas frases podem lhe soar familiares. E acho muito bom que assim seja, se me permite a opinião...Sim, ninguém é de ferro, mas isso necessariamente não impede que continuemos em busca de ouro, prata e bronze, além de pedras que, para alguns, quanto mais dura melhor! O "Di-amante" costuma a ser uma das mais valorizadas, justamente por conjugar as qualidades de transparência e rigidez. Isso, sinceramente, me lembra uma das metas do yoga, na minha simples forma de 'colocar isso aqui e agora - portanto, nem se questione de onde é que tirei isso, respondo já: da minha caixola mesmo...

Boa-noite, tenha um ótimo fim de sábado e fique com um Beijing 2008 todo dourado, em homenagem à cor que apontou nessa madrugada para nós, brasileiros, numa China distante... com uma intensidade, porém, que foi nitidamente percebida pelos trópicos sul-ocidentais, como se fosse um raiar de um novo dia ... eu vi e você, se não viu, creio que, sendo brasileiro, deve ter ouvido falar sobre!


A raia era a de número quatro, um número que há tempos se revela intrigante para esse euzinho que lhes escreve!

*Veja post do mesmo nome, em agosto de 2008.
* Dedicado a Cesar Cielo, que ganhou medalha de ouro, 50m livre, nas Olímpiadas da China, Beijing 2008, o ano do fenômeno Phelps, a nos dizer que sim, a superação de si mesmo é possível! ;))

quinta-feira, agosto 14, 2008

O boca a boca informatizado






"...a vida moderna tem trazido necessidades novas, uma das quais é a existência de cadastro das pessoas, tudo para possibilitar a defesa dos cidadãos contra aqueles que teimam em descumprir suas obrigações sociais. A existência de entidades específicas com informações dos inadimplentes, é forma nova da 'voz do povo'. Aquilo que antes as pequenas comunidades cuidavam de fazer, relacionando boca a boca aqueles não merecedores de confiança popular, hoje, face aos grandes conglomerados urbanos, ou até à glogalização, há de ser feito por entidades informatizadas. E não se diga que são direitos individuais que estão sendo violados. Não se pode opor esses direitos quando o ato atacado visa justamente a proteção dos direitos sociais, ou melhor, resguarda o direito de todos os demais indivíduos" (Agravo nº 726.070-6, 9ª Câmara do TACivSP, Rel. Juiz José Luiz Gavião de Almeida).

E você, como anda cuidando do seu catálogo, do cadastro da sua pessoa? Primeiro foram os cadastros de inadimplentes, mas o que impede que se possa acrescentar outros dados ou mesmo se criar outras modalidades de 'cadastros de pessoas', que de um jeito ou de outro raramente conseguem não viver em sociedade, sem enlouquecer?

Pelo canto da boca escorre
Uma gota ávida e cítrica.
A língua deslizando sorve
Uma ignota ácida e crítica.

(Por euzinha, em 6.8.2007).

domingo, agosto 10, 2008

Homenagem ao Dia dos Pais

Esse post está aqui apenas provisoriamente, para que, no tempo oportuno, venha um escrito digno de tantos pais, que fazem a diferença num 'País' de tantos órfãos.

Em breves linhas, 'no woman, woman no cry'... bem que eu me lembro, a genge sentava ali, na beira do asfalto, em meio a tanta hipocrisia, bem já cantou o nosso ex-ministro da cultura, o sempre Gilberto Gil!

Vou-me agora, sem antes de deixar dito, com todas as palvras, da minha eterna graditão por ter correndo nas veias o sangue dos 'temíveis irmãos Previdi', comunistas não apenas ideologicamente, numa época em que o zelar pelo bem-comum era sinônimo de subversão, que dava cadeia!

Feliz dia dos pais, ao meu e a tantos outros, como ao meu vô Virgílio e ao tio-avô Nilo - temíveis não por seus atos, mas pelo efeito de suas opiniões, sempre um risco ao status quo vigente.

sábado, agosto 09, 2008

Acho



Letra de Carlos Careqa, na versão de Carolina Cortes.


Acho que fiz meia música pra você
Aceita minha meia música
Desculpe o meu vexame
De fazer meia música pra você...


Acho que fiz meio amor com você
Aceita meu amor ao meio
O meu sonho de sedutor
De fazer meio amor com você...


Acho que quero ser meu de você
Metade da metade
Da super felicidade
Do meio que provoca o teu prazer...

Acho que meio amigo seu eu vou ser
Aceita meia amizade
O resto é banalidade
Meio amigos é o que podemos ter...


Acho que fiz meia música prá você
Aceita minha meia música
Desculpa o meu vexame
De fazer meia música prá você...

Acho que fiz meio amor com você
Aceita meu amor ao meio
O meu sonho de sedutor
De fazer meio amor com você...

Acho que quero ser meu de você
Metade da metade
Da super felicidade
Do meio que provoca o teu prazer...

Acho que nem amigo seu eu vou ser...
Aceita meia amizade,
O resto é banalidade,
Meio amigo ser é o que podemos ter...

Música, amor
Música, amor

Amizade, felicidade
Amizade, felicidade

Prazer em conhecer
Prazer em conhecer

Música, amor...
Música, amor...

quinta-feira, agosto 07, 2008

Flores por Decreto






Esse post começou num dia cinza, dia de chuva, dia frio. Parada num certo balcão de espera, avisa a minha Rede Paranaense de Televisão: Flores por Decreto! Hora do almoço, semana de preparativos para a abertura das Olimpíadas na China. Uma China comunista, que quando veio ao mundo achou que toda a arte contrária à sisudez do cinza era subversiva. E toda a produção de beleza foi castigada por décadas, em tempos em que até abandonar recém nascidas do sexo feminino nas ruas era tido como necessário. Mulheres podem ser belas, mas importa mais o varão que sustenta, do que uma beleza que desvia do objetivo comum. Quando a nova geração germinou e cresceu, alguns se deram conta de que os jovens não sentiam saudades do que lhes era estranho: as flores, por remeterem à beleza, foram proibidas de serem plantadas. Parece estranho obrigar alguém e, muito mais, uma imensa sociedade a plantar flores, pelo fato de que a grande maioria já nem se lembrava mais da alegria que a primavera traz ao mundo, ao sussurrar pelos ventos que a natureza renasce em festa!

Sim, flores por decreto. A beleza, banida, retornando em forma de imperativo categórico. Uma medida drástica, para tentar recuperar certas asneiras de outrora...

segunda-feira, agosto 04, 2008

Obelix-a e Asterix


Esse continho começou a partir da idéia sobre o que consiste a arte da sedução, do latim seducere, que significa desviar, afastar, desencaminhar, conduzir para o lado. Nas palavras de Latuf Isaias Mucci, em "Uma teoria da tradução", seduzir "indica a atração de um lugar (ou pessoa) para outro (ou outra). No campo semântico dos verbos, originados de “ducere”, ocorre, portanto, um movimento, uma atração, um ímã. ("www.arscientia.com.br/materia/ver_materia.php?id_materia=451)".

Diz Ivo Lucchesi, em "Sedução e Poder", que "nada mais oportuno quanto necessário do que, na abertura do tema proposto, se recuperar a etimologia da palavra “sedução”. Com o intuito de não se incorrer em mera repetição do que, em outra época, a respeito já escrevemos, melhor será a transcrição direta da fonte: A palavra provém do Latim seducere (se[d] + ducere). Sed, além de conjunção equivalente a “mas”, atuava nos textos antigos como prevérbio, significando “separação”, “afastamento”, “privação”, e ducere queria dizer “levar”, “guiar”, “atrair”. Em síntese, portanto, “seduzir” era o processo pelo qual se atraía para privar o outro da autonomia de si, sob a promessa de possibilitar-lhe a experiência do prazer pleno". ("www.brasilcultura.com.br/conteudo.php?id=414&menu=87&sub=454").

Feito esse breve intróito de ordem língüística, que não pára por aqui, continuo com as apropriadas referências de Zygmunt Bauman, em "Modernidade e Ambivalência", Ed. Zahar, que inicia com a abordagem nominada "A busca da ordem" (fls. 9/26) e dá o primeiro passo refletindo acerca do conceito de ambivalência, por ele assim definida: "possibilidade de conferir a um objeto ou evento mais de uma categoria, é uma desordem específica da linguagem, uma falha da função nomeadora (segregadora) que a linguagem deve desempenhar. O principal sintoma de desordem é o agudo desconforto que sentimos quando somos incapazes de ler adequadamente a situação e optar entre ações alternativas". Assim começa o autor a discorrer acerca do que nomina como uma ambivalência que não é nada mais do que um aspecto normal da prática lingüística, da qual decorre a função da língua de nomear, classificar, ordenar, propondo que a ambivalência é o 'alter ego' indissociável da linguagem. A angústia da ambivalência, segundo ele, decorreria da sua capacidade de confundir o cálculo dos eventos, de acordo com os padrões de conduta memorizados por cada um, no seu instinto natural de sobrevivência, porquanto nenhum dos padrões previamente apreendidos seriam claros o suficiente para conduzir o sujeito com segurança ao trilhar por situações ambivalentes. Dessa forma, o ato de classificar, de por ordem no mundo, acena como uma saída segura contra a dúvida e a angústia que própria ambivalência gera. Entretanto, o ato de classificar só se realiza pelos atos de incluir e excluir, reflexão que dá a conhecer que a essência classificatória, na busca da ordem, não deixa de trazer em si um ato de violência contra o mundo, na medida em que necessita excluir para se realizar. Torna-se, assim, evidente que a genuína busca de erradicar a ambivalência tem, em sua força motriz, não apenas o efeito de buscar extirpar a ambigüidade, mas é também geradora de si mesma, na medida em que o ato de classificar se constitui na força propulsora que gera mais ambigüidade. Prossegue o autor com o contra-posto entre a ordem e o caos, propondo que são gêmeos modernos, que vieram ao mundo após a perda daquele ordenado de modo divino, previamente à concepção do Leviatã de Hobbes. Assim, sugere que a consciência da ordem adveio a partir da visão de Hobbes, que introduziu o seu conceito em contraposição ao natural. Pode-se, assim, dizer que a modernidade existe pelo fato de bifurcar-se nas possibilidades entre ordem e caos, tendo-se, entretanto, que fazer uma opção entre essas duas alternativas, na hoje já clássica concepção de amódio que nos habita nesses tempos ditos modernos.

É dentro dessa visão que a luta pela ordem não se constitui na luta entre propostas e visões concorrentes, mas sim a luta contra a ambivalência, da transparência contra a obscuridade, da clareza contra a confusão, como meio para o discernimento da ambivalência total, do acaso do caos. "O outro da ordem não é uma outra ordem: sua única alternatia é o caos. O outro da ordem é o miasma do indeterminado e do imprevisível. O outro é a incerteza, essa fonte e arquétipo de todo medo. Os tropos do 'outro da ordem' são: a indefinibilidade, a incoerência, a incongruência, a incompatibilidade, a ilogicidade, a irracionalidade, a ambigüidade, a confusão, a incapacidade de decidir, a ambivalência. O caos, 'o outro da ordem', é pura negatividade. É a negação de tudo o que a ordem empenha em ser. É contra essa negatividade que a positividade da ordem se constitui. Mas a negatividade do caos é um produto da autoconstituição da ordem, seu efeito colateral, sua resíduo e, no entanto, condição 'sine qua non' da sua possibilidade (reflexa). Sem a negatividade do caos, não há positividade da ordem: sem o caos, não há ordem".

E prossegue brilhantemente Zygmunt Bauman: "A prática tipicamente moderna, a substância da política moderna, do intelecto moderno, da vida moderna, é o esforço para exterminar a ambivalência: um esforço para definir com precisão - e suprimir ou eliminar tudo que não poderia ser ou não fosse precisamente definido. A prática moderna não visa à conquista de terras estrangeiras, mas o preenchimento das manchas vazias no 'compleat mappa mundi'. É a prática moderna, não a natureza, que realmente não tolera o vazio".

Bem, prosseguindo agora bem ao estilo "Sanidade Bandida", do vazio, que remete à fome, vamos fazer um tour pelo apetite de embarcar no mundo e abarcar os caminhos que se abrem frente à imensidão de rios que a língua nos proporciona, nesse encontro de águas doces e salgadas do mar da vida.

O continho fala de uma conversa virtual entre Obelix-a e Asterix. Fazia tempo que não se viam e Asterix resolveu dizer olá justo quando Obelix-a planejava conhecer as redondezas da região que ficava ao nordeste do grande reino que habitavam, próximas à cidade natal de Asterix, conhecida por suas praias que remetem ao paraíso perdido aqui na terra. Asterix, sempre gentil e carinhoso, confidenciou-lhe, depois de receber algumas fotos suas, que ela continuava atraente como dantes, com suas curvas e cabelos de fogos ardentes e que muito lhe agradava a idéia de ser por ela seduzido, aditando que seria um imenso prazer revê-la em qualquer lugar, fosse ao sul, ao norte, ao centro-oeste ou mesmo ao nordeste, menos na sua cidade natal, por conta de sua namorada que era de lá. Obelix-a, realmente e quase sempre muito ardente, respondeu-lhe sem titubear:

- Quanto à idéia de seduzir você, para isso eu precisaria antes de um grande vazio, aliado a uma tentativa de desviar-me do caminho, para que a fome, em busca de sua ânsia de saciedade, se entregasse sem maiores reflexões aos pecados dessa gula, pelo instinto básico de sobrevivência. Entretanto, ao contrário do meu irmão e seu amigo inseparável, o Obelix, que vive acima do peso e é louco por beliscos, eu, sempre às voltas com a balança e vaidosa, prefiro ser um belo e sinuoso obelisco do que fazer as vezes de um saboroso petisquinho. É fato que um bom belisco será sempre um bom belisco e, embora às vezes engordativo, seu paladar é muito bem-vindo para abrir o apetite numa refeição! Minha fome, porém, apenas consigo saciar plenamente degustando um substancial prato principal, posto que um petisco, não importa o quão delicioso, vai bem de entrada, mas, definitivamente, não sacia a minha fome, principalmente a de 'pertencer' a uma relação de carinho, afeto e companheirismo, com todos os eteceretas de não menos importância!
Com afeto, Obelix-a!

Afeto que vagueia entre a ordem e a desordem, nesse medo, que nada mais é que a tradução de angst, que significa medo em alemão, e que deu origem a uma palavrinha intrigante chamada angústia ;))