sábado, outubro 18, 2008
Roji
Nunca te esqueças
que o caminho do chá
não é nada mais que isto:
aquecer a água,
preparar o chá e bebê-lo.
Cha-no-yu to wa
Tada yu wo wakashi
Cha wo tatete
Nomu bakari nari
Moto wo shirubeshi
Segundo a antiga mitologia chinesa, em um lugar afastado, ao leste da costa chinesa, existem cinco ilhas onde os homens alcançaram a imortalidade e convivem em eterna harmonia. Ali reina a harmonia entre o homem e a mulher e também entre o ser humano e a natureza. Os imortais voam ao redor dos picos das montanhas, montados em grous. As ilhas se assentam sobre a carapaça de uma gigantesca tartaruga aquática que, ao lutar com um monstro marinho, perdeu duas das cinco ilhas. Essa história é conhecida como "O mito da ilha dos bem-aventurados", a qual cativou o Japão, que a adotou, mas reduziu as cinco ilhas a uma apenas, chamada P'eng-Iai ou Horaij-zan, em japonês. Um monte Horai, uma ilha Horai ou bem uma pedra Horai... as vezes aparece uma ilha de quatro grous ou das tartarugas como símbolo da Ilha dos bem-aventurados na jardinagem japonesa. Os grous e as tartarugas, em certa medida 'pars pro toto', se converteram em símbolos autônomos da longevidade.
Chá: elixir dos imortais e bebida que fomenta a vida em comum. A cerimônia do chá, 'sado o chado' em japonês, é uma criação puramente japonesa, ainda que tantas coisa no Japão tenham sua origem na China. A prática de tomar chá era conhecida de longa data no sul da China como um ato social e parte de um ritual estético-religioso, o qual era apreciado pelos chineses desde a época da dinastia Han (206a.C-220d.C), sobre tudo pelo seu poder curativo não só para o corpo, como para a alma, sendo-lhe atribuído poderes mágicos. A partir do século VII foi introduzido nos monastérios budistas como parte de um ritual religioso e que era utilizado na meditação por seu efeito excitante. Na opinião de Theodore Ludwing, o mais importante foi a associação do chá com poderes mágicos e com os imortais, da mitologia taoísta, e uma sensibilidade para a auto-disciplina e simplicidade naturais que se associaram aos efeitos adstringentes do chá verde. Durante a era Muromachi foram desenvolvidos todos os tipos de ritos e festas em torno do chá que até então haviam sido esquecidos há tempos. Festas passaram a ser organizadas, onde não eram apenas degustados diferentes tipos de chás, mas também bebidas alcoólicas, enquanto os convidados podiam entreter-se em conversas e jogos de amores, havendo também casas de banhos presentes. Com o passar dos séculos, elaborou-se no Japão um detalhado ritual ascético para preparar-se a cerimônia do chá, tornando-se um costume dos ricos comerciantes do começo do século XVI construírem pequenas cabanas no jardim de suas casas para darem lugar à cerimônia, cujo acesso se dá pelo roji, o caminho que conduz ao so-an, cabana com telhado de palha, caminho esse que alude ao espaço que se encontra mais além da vida humana, consumida por paixões e ilusões.
Excertos a partir de "El Jardin
Japonés', capítulos "Mitologia Taoísta e o "O Novo protótipo do jardim da época Momoyama: roji, o rústico jardim do chá", de Günter Nitschke, Taschen.
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