terça-feira, setembro 23, 2008

Saia da Bolha



Saia da Bolha poderia ser a saia de uma menina que algum moleque chama de 'bolha'... mas em verdade essa bolha foi o nome dado a um dos ícones da locomoção de nossos tempos, um meio de transporte moderno conhecido por veículo auto-motor, que em geral é movido por vestígios de gigantes que outrora já pisaram por esse nosso mundinho, um ouro preto chamado petróleo.

Estava eu na última sexta a me locomover em minha bolha prateada, quando dela avistei um amigo de bom tempo sentado na beira do caminho, que fica bem no meio de uma agitada encruzilhada, especialmente na hora do rush de fim-de-tarde. O 'point' se transformou, paulatinamente, num dos mais novos ícones da galera descolada da minha cidade curitibana, quando a bebida da hora for um café, machiato, expresso ou como preferir o seu paladar.

Goura é amigo de outros carnavais, especialmente de um onde a música que mais rolou não foi samba, mas mantra- um deles, o mais famoso e conhecido, começa com HARE KRISHNA, HARE KRISHNA, HARE HARE! Atualmente divulga os ensinamentos do yoga em sua academia, que nos dá as boas-vindas com um certo jardim ao natural, a enfeitar a calçada nada tradicional.

Esse encontro fora do senso comum só poderia dar mesmo em samba: o samba que convidava os transeuntes a sair da bolha... Coisa de meia-hora antes, conversava eu com outro grande amigo sobre o tema bikes&afins, onde falávamos que não basta apenas querer sair da bolha, se faltam meios de transportes coletivos seguros para quem se atreve a mudar o status quo. Foi assim que descobri que a razão do movimento era justamente esta: não colocar mocinhos e mocinhas, especialmente essas últimas, em saias justas, possibilitando-lhes uma alternativa segura para se deslocarem em seus dia-a-dia...

Pretender abandonar carros e meios de locomoção tradicionais requer uma caminhada de mãos dadas com mudanças que vão além da escolha pessoal de cada um - é preciso metrôs onde especialmente as mocinhas possam andar de saia sem a sensação de serem alvo de situações embaraçosas que já lançaram alguns movimentos, em cidades outras, para que os vagões fossem separados entre usuários homens e usuárias mulheres...

Andar de bicicleta, num fim de tarde de inverno curitibano, pode ser uma procura certeira por um final-de-semana embaixo das cobertas, à espera da passagem dos espirros, enquanto o corpo se recupera... para evitar tais sequelas, é necessário muito preparo e um bom agasalho, coisa difícil de se ter sempre à mão, quando se vive numa cidade que tem o dom peculiar de nos brindar com as quatro estações do ano, num único dia apenas...

Disse-me o Goura,- fazendo-me lembrar das peripécias de uma amiga, antes Cinara e hoje Chaitanya Mayi devi dasi, que quando morou em Amsterdan ía para as festas de fim-de-noite como se fosse uma montanha de roupas ambulantes em cima de duas rodas movidas a muitas pernocas, que depois se permitiam a liberdade da dança em mini-saias, enquanto a temperatura abaixo de zero esperava do lado de fora,- que em certos países da Europa muitos preferem bicicletar a se 'embobalhar' dentro de uma lata de sardinhas ou tubarões, a depender do tamanho do carroça ambulante!

E a melhor resposta que a providência me permitiu foi a foto que o acaso flagrou: um manifestante de mãos-ao-alto frente aos faróis que vinham alto, bem alto!

Post em homenagem ao Dia Mundial sem carro (22.9.2008), onde manifestantes de coragem pedalaram por alguns instantes nus, numa temperatura que não ultrapassava a marca de 15 graus, numa certa Curitiba, terra de muito pinhão e pião.

Um comentário:

Cláudia disse...

Pois eu mesma aproveitei o dia mundial sem carro para deixá-lo num spa oferecido pela oficina pertinho da casa de uma amiga... mas não pude evitar os carros, foi preciso pegar algumas caronas. Dia seguinte saio de casa totalmente zen, com música aos ouvidos e olhares para admirar os detalhes desapercebidos quando se dirige uma bolha. Depois de 40 minutos à espera do ônibus, que providencialmente fez um test drive na minha paciência - a linha é ótima, mas de tão boa se dá ao luxo de atrasar para passar dois ônibus seguidos-, fiquei a pensar em como seria dispensar, diariamente, uma hora e meia para me deslocar da casa para o trabalho, sem percorrer mais do que dez quilômetros...