quarta-feira, março 26, 2008
Um gênio que mora na rua
Nem sempre é possível dedicar-me integralmente ao prazer de escrever. Para isso, é preciso também ler, integrar-se ao mundo, para tecer algumas impressões, nem que seja acerca das sensações que palpitam o estar dele afastado. De certa forma, é sempre essa dicomotia que me move a estar aqui. "Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração", nos disse Carlos Drummond de Andrade. Mundo, mundo, mundo: o meu, o teu, o nosso! Sim, ele está em toda a parte, não há como fugir, ele nos é tão intrínseco como a própria vida. Mundo, cada um tem o seu, mas sem o mundo do outro parece que a vida sempre está a nos dizer que o nosso mundinho não faz lá muito sentido.
Aqui, trago uma história que diz muito dessa minha perplexidade quando tantas vezes me pergunto sobre o que é realmente essencial. O dom de "Charles da Flauta", não importa o quão genial, aponta que há alguma outra necessidade mais urgente que precisa ser equilibrada, afinada.
"Ama o teu próximo como a ti mesmo" - entendem alguns que esse mandamento diz não apenas da necessidade de amarmos o outro, mas essencialmente a nós mesmos.
Despeço-me, com sinceros agradecimentos ao sempre amigo que compartilhou essa reportagem, à qual me dei ao luxo de reproduzir, nesse mundo cibernético onde pouco se cria e muito se copia!
"Um gênio que mora na rua", por Gilberto Dimenstein
"Charles Pereira Gonçalves é um dos exemplos brasileiros mais definitivos de desperdício de talento --viciado em crack e infestado pela tuberculose, é um reconhecido gênio musical que mora na rua.
Quando era menino e tocava flauta nas ruas do centro de São Paulo, Charles chamou a atenção de músicos. Impressionou tanto e tanta gente que, em pouco tempo, foi convidado para estudar na Alemanha, onde seria aluno, com todas as despesas pagas, do primeiro flautista da Orquestra Filarmônica de Berlim. "Com estudo, ele vai ser um dos maiores flautistas do mundo", dizia o maestro Júlio Medaglia, que abriu para Charles o caminho até a Alemanha. Altamiro Carrilho disse, perplexo, que alguém tocar tão bem sem nenhum estudo, só teria uma explicação: " Reencarnação"
Mas Charles caiu na droga, não conseguiu viajar e hoje vive debaixo do Minhocão, no meio do barulho incessante e da poluição que só agrava sua tuberculose.
Por trás desse desperdício, existem a pobreza, a desestrutura familiar, a falta de educação e a limitada rede assistencial. Apenas nas regiões metropolitanas são sete milhões de jovens que não estudam nem trabalham. Sem contar os que estudam em escolas ruins, incapazes de desenvolver talentos. Por isso, ampliar a bolsa em dinheiro para jovens (o que eu concordo para reduzir a evasão) sem melhorar a escola, tornando-a uma porta de saída, beira o desperdício. Vemos como é difícil, depois de certo momento, recuperar um indivíduo e integrá-lo à sociedade.
Se o país imaginasse quanto talento é desperdiçado, ouviria melhor a poluição sonora da falta de perspectiva --assim como pode ouvir a genialidade perdida de Charles.
Coloquei em meu site (www.dimenstein.com.br) uma pequena amostra do talento desse flautista.
Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às segundas-feiras".
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3 comentários:
A quem interressar charles gonçalves esta internado no Hospital Emilio Ribas a semanas
Não importa que atuemos, muitas vezes, anonimamente, o que conta, sempre, é a interação que a comunicação, seja ela do jeito que for, amorosamente nos proporciona :))
Acrescento, entretanto, que as informações aqui repassadas não foram confirmadas pela recepção do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo. Não consta nenhum paciente internado lá com esse nome.
Para confirmar, basta ligar para 011-3896-1200.
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