terça-feira, novembro 18, 2008

Dhyanabindu Upanishad

I

O pecado acumulado durante a vida
é alto como uma montanha
e longo como mil léguas!
Só pode ser destruído
pela prática da meditação:
Não há outro meio.

II

A sílaba germe (bija mantra)
é encimada por um ponto
e por uma lua crescente.
Ela é sonora,
mas, se for destruída a sílaba,
não resta senão o Absoluto,
silencioso.


XXXVII

Fluindo como o azeite
vertido em jato contínuo,
semelhante ao zumbido
de um sino tocando ao longe,
é a ressonância indizível
da sílaba Om;
quem a conhece, conhece o Veda.

XXXVIII

Estabelecido firmemente
na prática do Yoga
o yogin aspira o ar
como se aspira a água
por meio de um bambu;

XXXIX

tendo reduzido o lótus
à metade de um botão,
ele aspira o ar exterior
pela haste apenas da flor
e o faz subir até o ponto
existente entre as duas sobrancelhas
onde o ar aspirado se dissolve.

XL

Lá, no meio da fronte
na raiz do nariz,
está o Centro da Vida,
morada da imortalidade (amrita-sthana).
O yogin deve conhecer
este lugar de majestade
onde mora Brahman.

XLI

Posturas, retenção da respiração,
retração dos sentidos, atenção concentrada,
meditação, êxtase final,
tais são as seis etapas do Yoga.


Esse post é em homenagem a uma sucessão de eventos que reúnem um misto de conquistas, dificuldades, tropeços, reconquistas, reencontros e novas possibilidades. A escolha dos trechos da Upanishad, que faz parte da tradição védica de uma das vertentes da filosofia yogue, não é à toa. O Yoga me acompanha, em indas e vindas, desde a minha adolescência, quando tive o meu primeiro contato com as práticas, num ambiente que alguns podem achar inusitado: dentro de um colégio marista, de tradição católica. As aulas eram dadas por um dos irmãos da congregação, o qual, soube muito tempo depois, a deixou para seguir a vida a dois. O que mais me fascina, dentro dessa proposta do pensamento humano, guardadas as devidas proporções, que aconselham o cuidado com certas literalidades, dado não só o caráter altamente simbólico das escrituras, mas também o largo lapso de tempo que nos separam do contexto em que foram redigidas, é a crença firme de que podemos superar padrões de pensamento, condutas e disfunções do corpo e da mente, através da prática. Por isso, a impossibilidade de assemelhar-se a meros exercícios físicos, pois cada postura trabalha não apenas a parte corporal externa, mas também a interna, seja a fisiológica como a psíquica.

Para falar da tradição yogue, em rápidas linhas, cabe lembrar a existência de diferentes escolas, com propostas singulares, onde algumas dispensam as posturas físicas, como o Raja Yoga, que dá ênfase à meditação, a qual, entretanto, bom dizer, dificilmente pode ser suportada pelo corpo, por um longo período de imobilidade, sem que se esteja preparado para tanto. Mas se fosse possível tirar um fio que pudesse permear em generalidade a essência do yoga, eu escolheria aquele que traz escrito em si a lição de que o corpo deve ser trabalhado dentro de princípios básicos, que consistem em conjugar a estabilidade e a maleabilidade do corpo e, em especial, da coluna vertebral, que pode ser exercitada com flexões para frente e para trás e torções para a direita e esquerda; práticas de equilíbrio e inversões em relação à gravidade, onde se procura localizar a parte superior do corpo abaixo da linha da cintura ou dos pés, essa última conhecida como postura invertida sobre a cabeça. O objetivo, assim, é conjugar, sempre, estabilidade, flexibilidade e força interna, durante a permanência dentro das posições, propiciando ao corpo uma maior leveza de movimentos, que exala uma vivacidade de energias em equilíbrio, o que é possibilitado, ainda, pela associação de práticas respiratórias (pranayamas) às posturas físicas (ásanas).

Dentre tantos ensimamentos que a prática nos proporciona, a observação de si mesmo talvez esteja dentre as que mais benefícios trazem. E, pessoalmente, confesso que muitas me conduziram a diversas experiências de estado modificado de consciência, desde a mais simples sensação de conexão com uma sabedoria que se encontra para além da razão e que se dá a conhecer pela segurança profunda com que nos arrebata, até a emoção inusitada de intensa felicidade de quem retorna ao lar, após uma longa jornada. E é por isso que nunca deixo de render as minhas homenagens a essa tradição do pensamento oriental, pois mesmo que eu fique um bom período afastada, dentre indas e vindas, cada reencontro deixa a sua marca indelével mas certeira das inúmeras possibilidades que se abrem, a nos auxiliar no caminho.

Hari Om!

:))

Excertos a partir de "As Upanishas doYoga - Texto sagrados da Antiguidade", Carlos Alberto Tinoco.

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