terça-feira, julho 22, 2008

Metaformose Ambulante.


Pediram-me um escrito 'claudiano', claudicante arrogante, sempre em busca de algo que nos aproxime mais da completude, mesmo diante, como dizem muitos, da nossa falta constitucional? É que talvez o inteiro não seja, necessariamente, preenchido pela concretude...mas também por outras coisas menos paupáveis, algumas até sem forma, sem odores ou cores, que poderiam passar quase que desapercebidas, se não fosse a imensa falta que nos comunicam quando se fazem ausentes.

E eis que eu, tantas vezes tão disposta ao falar, ao escrever e ao questionar tantos porquês, venho hoje homenagear o silenciar, como que convidando ao meditar sobre a idéia de que a mente é um sentido, como dizem os budistas e, por isso mesmo, deve ser ultrapassada, para chegar-se a uma compreensão que nos leva para um mais além do lugar para o qual nos conduz a imaginação!

Não consigo, entretanto, formular uma possibilidade de dar ao conhecer tal perspectiva sem passar pela condição básica do palavrear... e é nessas horas que os poetas nos prestam ajuda valiosa. Assim é que, hoje, sirvo-me do Raul, que cantou a letra do Paulo Coelho, que escreveu preferir a constante transformação do que à imutabilidade, quando nos confessou ser mais afeto à "uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo".

Quem igualmente endossa a idéia é Helena Blavatzky, ao propor que "muito mais grave que uma enfermidade incurável é um pensamento imodificável".

E é assim que venho aqui, rapidamente, para convidar a todos ao desafio de vencer, cada um à sua maneira e ao seu devido tempo, as amarras que nos impedem de alçar os vôos que a nossa imaginação às vezes se permite. Sem, entretanto, como de costume, ponderar que certos nós não devem ser desfeitos sem uma acurada análise das suas razões de ser, como nos ensina o yoga, ao trazer o conceito dos "granthis", nós de segurança internos em número de três, que se localizam ao longo da "shushumna", a coluna vertebral sutil, segundo a visão yogue.

Então, por hoje é isso: metamorfosear sim, mas com a garantia de respeito a si próprio e ao outro é o pensar que venho hoje, aqui, depositar, com votos de que em breve muito se possa desfrutar dos lucros desse achar. E para tanto, é preciso confidenciar o erro que, no depois, acenou para um acerto, quando ao invés de escrever metamorfose, os dedinhos que gostam de trocadilhos digitaram metaformose... como se formosura não viesse de forma, que do latim formosus diz-se que também nasceu o filho hermoso* da nossa querida língua-irmã espanhola!

*http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=21760

** Texto para reflexão: "Para além da soberana crueldade, uma utopia possível", de Sérgio Telles, em: http://www.estadosgerais.org/resenhas/telles-para_alem.shtml

2 comentários:

Ana Rita Gondim disse...

Uma homenagem ao seu silenciar

“O silêncio humano – é sabido – não se expressa apenas através da prescindência das palavras. Também se expressa através das palavras das quais prescinde. E as palavras das quais prescendem provêm, usualmente, da garganta do hábito, do dogma e do preconceito – três manifestações de uma mesma e angustiante necessidade. (...) Se é verdade que o silêncio expressa, também é verdade que aquilo que expressa nem sempre é igual, nem vale a mesma coisa. O silêncio pode ser, então, tanto o corolário excelso da lucidez, como a bruma irremediável na qual se dilui a aptidão – e ás vezes a necessidade – de articular uma idéia ou uma emoção com a qual deixar para trás o mundo do previsível e do codificado. (...) Ali, onde o convencional já não prevalece, o silêncio faz ouvir os passos que denunciam sua proximidade, a contundência do mistério, sua vivacidade, o magnetismo de um sentido que, deixando-se roçar como alusão, franqueia o acesso à vivência de seu enigma.”

... pois escrevi um trabalho sobre "O silêncio do estrangeiro".
Beijo grande, bela flor!

Ana Rita Gondim disse...

Mmmmm... esqueci de dizer. Tirei isso de "O silêncio primordial", de Santiago Kovadloff. :-)