quinta-feira, julho 03, 2008

O tesouro da lei - O Sutra de Hui Neng



Quem me apresentou a história de Hui Neng foi o Wu Long Fu, ou o Luiz, se preferirem. Tepareuta natural, natural de Hong Kong (tel. 041-3562-1569), acupunturista, prática deveras indicada para quem anda à procura de esvaziar o "saco-cheio"! Sem maiores ilações para o momento, o texto fala por si só. E a conclusão, lá no final, parece-me perfeita para as correlações que gosto de fazer, sem qualquer intenção estelionatária, oxalá sempre me permita a boa lógica.

Enjoy, as always :))


"Huei-Neng ocupa lugar de destaque na história do Zen. Não foi apenas o último patriarca da escola (daí por diante sucederam-se muitos mestres), mas também o primeiro chinês a formular concretamente a verdade do Tch'an em sua língua materna.

Se bem que seja difícil distinguir seus próprios sermões (o "Sutra da estrada") da contribuição do discípulo Chen-Hueí, os textos revelam o surgimento de uma espiritualidade nova, original, característica da realidade chinesa e destituída das influências didáticas indianas.

A paixão chinesa pelo concreto, pela verdade tangível pôde enfim, graças a Huei-Neng, mostrar-se, sem ceder nos pontos cruciais da doutrina.

Criado por sua mãe na pobreza, Huei-Neng é freqüentemente apresentado como um "bárbaro" sem letras, frustrado e grosseirão. (Há por certo algum exagero ostentatório nessa "anti-hagiografia"). Certa vez, quando vendia bois numa praça de mercado, ouviu uns monges salmodiando sutras. Profundamente tocado pelos versos, abandonou a família e se foi em busca de um monastério que o acolhesse.

Por muito tempo peregrinou oferecendo seus préstimos em troca de um prato de sopa. Por fim, reencontrou seu mestre Hung-Jen, que o reconheceu ao primeiro olhar, mas, receando irritar seus discípulos mandou-o para a cozinha, onde teve de se contentar em pilar arroz.

Huei-Neng, satisfeito com essa situação precária, aguardava sua vez, assistindo aos ofícios quando lho permitiam e passando por tolo aos olhos dos mais eruditos...

Hung-Jen, pressentindo seu fim próximo e preocupado com a sucessão, resolveu abrir um concurso para escolher o novo mestre do monastério.

Cada monge devia compor uma gatha (sentença versificada) onde exprimisse sua compreensão pessoal do budismo.

A maioria dos monges, convictos de suas limitações, preferiu deixar a Shen-Hsiu a iniciativa dessa tarefa difícil. Todos o consideravam exemplar, versadíssimo nas escrituras, capaz de debelar os pontos mais complexos de doutrina. Por certo estava destinado às maiores distinções...

Shen-Hsiu aplicou-se na redação de uma gatha impecável, que deixaria longe os eventuais concorrentes. Após longa cogitação, resolveu dependurar sua obra num dos corredores do monastério. No dia seguinte, todos leram e gabaram a incontestável qualidade espiritual da sentença.

"O corpo é a árvore da iluminação,
O espírito é o suporte de um espelho brilhante.
Limpai-o constantemente, com inteligência sempre alerta.
Para preservá-lo da poeira do mundo."

The body is a Bodhi tree,
the mind a standing mirror bright.
At all times polish it diligently,
and let no dust alight.

Essa gatha, no entanto, não teve a ventura de agradara Hung-Jen, que a criticou publicamente, deixando o pobre autor amargando o fracasso inesperado. "Ainda não percebestes a natureza da alteridade. Chegastes à soleira, mas não passastes a porta. Impossível alcançar a sabedoria sobre semelhante base."

Huei-Neng pediu para ouvir a gatha criticada e imediatamente compôs uma outra, encarregando um monge de lavrá-la na forma devida:

"A iluminação não é uma árvore,
Nem o brilhante espelho um suporte.
Não sendo coisa alguma,
Como a poeira nele depositar-se-ia?"

Bodhi is no tree,
nor is the mind a standing mirror bright.
Since all is originally empty,
where does the dust alight?

菩提本無樹,
明鏡亦非台;
本來無一物,
何處惹塵埃?

Hung-ien, ao tomar conhecimento dos versos de Huei-Neng, decidiu transmitir-lhe o saber. Mas, temendo a reação dos discípulos, que talvez não compreendessem como um analfabeto poderia se beneficiar daquilo que fora negado ao mais capaz deles, recebeu Huei-Neng secretamente na noite seguinte.

Depois de confiar-lhe a tigela e o manto (símbolo dos mestres da doutrina), falou-lhe longamente sobre o Sutra do Diamante. A seguir, despediu-o, recomendando-lhe desaparecer no seio da natureza e conservar o anonimato por um bom tempo antes de se apresentar oficialmente no momento devido.

Mais tarde, interrogado sobre a razão dessa escolha, o mestre respondeu: "Quatrocentos e noventa discípulos meus compreendem bem o budismo. Huei-Neng é a única exceção. É homem que não se pode aquilatar pela medida comum. Por isso a tigela e o manto lhe foram confiados".

Huei-Neng, de fato, nada compreendia do budismo: a doutrina e as escrituras permaneciam obscuras para ele. Em contrapartida, enquadrara-se em sua perspectiva e o despertar não tinha mais segredo para ele.

A gatha que compusera traduzia com admirável concisão seu nível de compreensão: a iluminação ou o espírito não são objetos, é inútil cultivar esse engodo e procurar preservar uma pureza inconsistente por meios falaciosos. Ser é o bastante...

Huei-Neng passou quinze anos em solidão, aprendendo a ler e a escrever, meditando e aprimorando sua compreensão "selvagem" com a leitura das Escrituras.

Em 676 começou a ensinar e a conduzir muitos discípulos à iluminação. A estes cabia construir, em seguida, escolas e mosteiros, que foram se sucedendo sem interrupção até o ano mil.

A semente do Tch'an germinava enfim, e a árvore florescente do budismo chinês prometia uma bela colheita... Suas raízes extraiam a força da terra! Degustar o fruto do Zen é descobrir um perfume e um sabor que não se esquecem jamais, e que já se depreendem das páginas mais formosas de Lao-tse e Tchuang-tse.

A comparação das duas citações seguintes é suficiente para justificar essa convergência metafísica.

"Conservai a unidade de vossa vontade. Parai de escutar com o pensamento, fazei-o como espírito. A função do ouvido é ouvir; a do pensamento, formar imagens e idéias. Quanto ao espírito, é um vazio que responde a todas as coisas. O Tao está no vazio - o vazio é a abstinência de pensar."
Tchuang-tse (séc. IV ou III a.c)

"Quando nosso espírito se acha livre de peias - e não cogita do bem ou do mal -. é preciso não abismar-se no vazio puro e assumir a imobilidade da morte. Melhor esforçar-se para ampliar o saber e os conhecimentos a fim de alcançar a consciência do próprio espírito e compreender a fundo o ensino essencial de todos os iluminados. Deve-se cultivar um espírito de harmonia simpática com os outros e banir a idéia paralisante do "eu" e do "tu" até chegar à completa iluminação e à plena consciência de sua verdadeira natureza - que é imutável."


Conta-se, ainda, que o mestre, percebendo que seus dias de existência na terra se aproximavam da barreira da morte, deixou aos seus alunos o ensinamento:


"Cada um de vocês, faça o seu melhor; vão para onde as circunstâncias os levarem.
Com aqueles que são simpáticos
Vocês devem manter discussões sobre o Budismo.
E com aqueles cujo ponto de vista difere dos seus,
Tratem-nos com polidez e tentem faze-los felizes.
Disputas são alienígens para a nossa escola,
Elas são incompatíveis com o seu espírito".

"Do your best each of you; go wherever circumstances lead you.
With those who are sympathetic
You may have discussion about Buddhism.
As to those whose point of view differs from ours,
Treat them politely and try to make them happy.
Disputes are alien to our school,
They are incompatible with its spirit".


E quanto ao destino? Bem, disse-me o aplicado aluno Luiz, o Wu Long Fu, lá do começo:

"A prática total muda o destino no TAO".

Texto original publicado em http://www.nossacasa.net/SHUNYA/default.asp?menu=148
Para mais informações, procurar em:

http://en.wikipedia.org/wiki/Huineng
http://www.dharmaweb.org/index.php/The_Sutra_of_Hui_Neng
http://sped2work.tripod.com/huineng.html
http://teosofia.wordpress.com/2008/03/03/resumos-do-sutra-de-hui-neng/
http://www.theosociety.org/pasadena/sunrise/50-00-1/as-elo5.htm

2 comentários:

seneca disse...

Claudita, achei que é uma fonte de meditação maravilhosa.

Claudita: achei que é uma fonte de meditação maravilhosa.

Adoro você.

Um beijo

Anônimo disse...

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