sábado, setembro 20, 2008

Trabalhos de amor perdidos



"As palavras simples e honestas são as que melhor falam ao ouvido da dor, e o Rei pode ser compreendido pelos seguintes signos: por vocês, belas, ignoramos o prazo e quebramos nosso juramento. A sua formosura, caras damas, veio nos deformar, conduzindo nossa disposição até mesmo para o lado oposto de nossas intenções. E aquilo que nos parecia ridículo- na medida que o amor é cheio de impulsos inconvenientes-, nós quatro, alegres como crianças, saltitantes e fúteis, construímos formas, feições e figuras, variegadas em várias criaturas à medida que o olho vagueia pelos vários objetos que vê no seu olhar. Se a nossa presença, em trajes multicoloridos, empalhaçados, amorosamente relaxados, a seus olhos celestiais não mais condizia com nossos juramentos e nossa dignidade, foram esses mesmos olhos celestias testemunhas de nossos erros que nos incitaram a cometê-los. Assim é que, caras damas, o nosso amor sendo seu, os erros que o amor comete são igualmente seus. Nós com nós mesmos fomos falsos porque fomos falsos uma única vez- para sermos eternamente fiéis a quem nos faz ser ao mesmo tempo falsos e fiéis: vocês, lindas senhoritas. E assim é que a falsidade, em si mesma um pecado, purifica-se, transformando-se em virtude".

Trabalhos de amor perdidos, por William Sheakspeare, L&PM Pocket, tradução de Beatriz Viégas-Faria, pág. 129/130.

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