terça-feira, junho 19, 2007

É sempre Presente.




De olhar em olhar,
Do que vivi, ao voltar,
Amigos - os verdadeiros,
Parecem sempre os mesmos.



Nestes instantes de memória,
Não há passado,
Sequer eu fui.


É como se a ternura do olhar,
Pudesse todo o Universo encerrar:
É sempre presente, no vórtice do coração.

2 comentários:

Cláudia disse...

Sequer

11.6.2007

Faz anos que, volta e meia, algum leitor escreve para condenar o uso do advérbio "sequer" com valor negativo. Por exemplo: "O Flamengo (suspiro) sequer marcou um golzinho no Figueirense". A maioria argumenta que "sequer", que significa "ao menos", não tem poder de negação em si. Sendo assim, alegam eles, a frase em questão jamais poderia prescindir da companhia de um advérbio de negação: "O Flamengo nem sequer marcou um golzinho (ou não marcou um golzinho sequer) no Figueirense".

Deve-se reconhecer que esse argumento encontra respaldo nas gramáticas normativas: não sei de uma só que legimite o uso de "sequer" com valor negativo em si, embora ele ocorra o tempo todo na língua brasileira. E não só nas ruas e botequins. Quem faz questão de uma abonação culta merece saber que em 1945, no livro "A rosa do povo", Carlos Drummond de Andrade publicou um poema intitulado O mito, que começa assim: "Sequer conheço Fulana,/ vejo Fulana tão curto,/ Fulana jamais me vê,/ mas como eu amo Fulana".

O "sequer" do poeta, como se vê, tem valor negativo, embora esteja desacompanhado de advérbio de negação. Não se trata de argumentar, o que seria simplório, que está "certo" porque foi escrito por Drummond, mas de reconhecer que um uso desses, já antigo e referendado por um dos maiores artistas da língua, dá o que pensar. Será que não estamos diante de uma evolução semântica de "sequer"? Tudo indica que, de tão usado em construções de sentido negativo, praticamente exclusivas a essa altura, "sequer" terminou por incorporá-lo.

Por transformação parecida passou "jamais". As construções negativas do português antigo davam a "jamais" um papel de coadjuvante expressivo de advérbios de negação. Dizia-se "jamais (ou já mais) não farei tal coisa" ou "nunca jamais desistiremos". Foi graças à tendência da língua para a concisão que "jamais" acabou seguindo carreira solo como sinônimo de "nunca". Tudo indica que "sequer" vai por um caminho semelhante.

Sergio Rodrigues

Cláudia disse...

A primeira versão terminava, na última estrofe, com 'vórtice do coração'. Mas havia algo que parecia faltar... e foi pensando sobre isso que me veio a afeição. Talvez, justo por morar no coração.