sexta-feira, junho 20, 2008

Biruta d'eixo II




No ano passado, brinquei com a foto de uma querida amiga, que retratou um bitura, rodopiando ao som do invisível... Era uma sexta-feira, mas não treze, como a da semana passada. Dia em que brilhou a estrela de um bilionário no Brasil, de nome Eike Batista, capa da Revista Veja dessa semana. Em breves folheadas, chamou-me a atenção a forma como se referiram ao mais novo fenômeno da economia nacional:



"O Mr. X da bolsa", por Ronaldo França e Ronaldo Soares.

"Aos 51 anos, bilionário e bon vivant, Eike Batista faz a maior oferta de ações da história e se torna expoente da modernidade na economia brasileira.

O empresário Eike Batista é conhecido por suas superstições. Entre outras esquisitices, todas as suas empresas têm o nome terminado com a letra X, símbolo da multiplicação, e todas as cifras de suas transações comerciais têm de conter a dezena 63, porque era esse o número de seu barco quando foi campeão mundial em corrida de lancha. Agora, Eike tem bons motivos para considerar que o 13 é seu novo número da sorte. Na sexta-feira, a oferta pública de ações (IPO, na sigla em inglês) de sua empresa petrolífera, a OGX, captou 4 bilhões de dólares. É a maior operação desse tipo já feita no país. No fim do dia, as ações fecharam com alta de 8,3%, tendo elevado o valor de sua empresa ao patamar de 23,6 bilhões de dólares, dos quais 60%, ou 14 bilhões, são seus – uma montanha de dinheiro que vai se somar aos outros 6,6 bilhões de dólares de seu patrimônio, segundo a revista Forbes. A operação surpreende pelo valor, mas sua singularidade tem outro motivo: a empresa que tanto atraiu os investidores tem apenas um ano de existência e nenhuma reserva de petróleo provada. Em um só dia, Eike criou uma companhia petrolífera com quase 7% do valor de mercado da Petrobras, empresa com mais de cinqüenta anos de história, que produz 1.918 barris de petróleo por dia e dispõe da mais refinada tecnologia de extração em águas profundas".

O sucesso de Eike deriva de uma confluência de fatores objetivos extremamente favoráveis: a obtenção do grau de investimento pelo Brasil, a alta do petróleo no mercado internacional e a enorme expectativa de prosperidade proporcionada pela nova fronteira de exploração, na camada do pré-sal que se estende pela costa brasileira. Tudo isso forma o cenário definido por um experiente analista do mercado de capitais como "alinhamento dos astros". Graças a esse alinhamento e a uma eficiente capacidade de contratar as pessoas certas, Eike manteve o rumo nos momentos ruins e disparou nos bons. Isso não explica completamente o sucesso alcançado pela OGX. Para compreender o que se passou na Bovespa na sexta-feira, é preciso levar em conta um fator subjetivo, que vem sendo chamado de "efeito Eike".

O que é o efeito Eike? É o vórtice produzido em torno dos grandes movimentos do empresário. Se ele compra participação em uma empresa, as ações passam a ser acompanhadas mais de perto. Se é ele que está à frente da operação, como na semana passada, os grandes investidores se interessam. No volátil mundo das bolsas de valores, Eike virou uma espécie de biruta. Fique claro: trata-se do instrumento que ajuda os navegadores a saber a direção do vento, porque de maluco ele não tem nada. Aos 51 anos, tornou-se o símbolo do novo empreendedor brasileiro. Ele é a cara do capitalismo que começa a se instalar no país, no qual o empreendedorismo se sustenta no mercado de capitais, e não nas benesses estatais. Um ambiente em que o Brasil se afirma como país inserido na economia mundial, confiável aos olhos de investidores estrangeiros, onde os negócios produzem riqueza para empresários e mais ainda para os investidores, que podem ser tanto os grandes fundos quanto as donas-de-casa brasileiras. (...)

Eike ganhou respeito também por outro episódio singular. Quando abriu o capital da MPX, sua empresa de energia, as ações caíram abruptamente, puxadas pela crise das hipotecas nos Estados Unidos. Para reduzir a perda dos que apostaram na empresa, transferiu para a MPX as ações que tinha em duas termelétricas. Na prática, entregou cerca de 1 bilhão de dólares a título de compensação a quem confiou nele. Ganhou o coração dos banqueiros – se é que banqueiro tem coração. Não há notícia, no mundo inteiro, de uma reparação aos investidores dessa magnitude. O que explica decisões como essa, que assustou até mesmo o board de sua holding, a EBX, é a crença em uma forma de fazer negócios que não é muito popular por aqui. Aos amigos, gosta de dizer que, enquanto o governo se preocupa em distribuir a riqueza aos mais pobres, ele a distribui aos ricos. Para ganhar seu primeiro bilhão de dólares, entre 1980 e 2002, repartiu em forma de dividendos outros 24 bilhões. Fez isso remunerando acionistas e oferecendo bônus monumentais a seus parceiros comerciais, categoria na qual inclui seus funcionários. Ficou conhecido no mercado o contrato com o ex-presidente da BR Distribuidora Rodolfo Landim. Eike o levou para sua empresa graças a um pacote de remuneração que pode chegar a 44 milhões de reais, de acordo com as metas de desempenho. É com essa voracidade pelos melhores talentos que tem abocanhado nacos inteiros de equipes de suas principais concorrentes, incluindo Petrobras e Vale".

Para ler repostagem na íntegra, acesse o endereço: http://veja.abril.com.br/180608/p_094.shtml

E para me despedir, nessa sexta-feira, meus sinceros desejos de que possamos tirar boas lições sobre como ser, nesse mundo cada vez mais sem eira, nem beira, birutas, mas com eixo, para sinalizar os bons ventos a quem nos acompanha na caminhada! Considerações muita adequadas, para quem busca lançar-se ao mercado de ações, não só financeiro, mas também pessoal, que traz em si a dicotomia latente entre a condição de sujeito e objeto, da nossa líquida sociedade moderna!

Foto repeteco, por Liana Schulman.

3 comentários:

Anônimo disse...

Essas 'notícias', Cláudia, cheiram-me a propaganda para que o povão perca dinheiro na bolsa. Mas não estou acima de suspeita: mal consegui ler o artigo, indigesto, depois de ver a beleza incrível da foto. Ponha essa foto lindíssima no fim, não no começo. Sou, como você certamente já sabe, um homem muito fraco. Enterneço-me com a singeleza, ainda mais quando junto da beleza. Choro como criança em filmes comoventes. Você, por outro lado, pertence ao grupo do fortes. Então, poupe-me. Ponha essas fotos lindas no fim. Talvez assim eu leia essas bobagens de incitamento a aplicações na bolsa pelo menos descontraidamente, e depois veja, como sobremesa, a fotografia.

Isso, porém, não é o pior. O pior é que essa foto aí me deixa completamente boboca, fora de combate. O céu está lindíssimo, e esse negócio que é uma espécie de catavento mas de que não me lembro o nome compõe a cena belissimamente. Não me lembro, nestes últimos 65 anos, de ter visto foto tão linda. Só as suas. É um tropel de concorrências incríveis. Ah, que diabo de mundo competitivo.

Petonets*, Murilo.

Beijinhos, em Catalão.

Cláudia disse...

Pois é, Murilo, enquanto os ventos continuam sempre correndo, de lá para cá, desde que o mundo é mundo, e o céu troca de roupa, às vezes usando composições azuis, com toques de branco, deixado para ocasiões especiais a versão black tie - traje negro, repleto de cristais de intensa luminosidade, homens e mulheres buscam evoluir. E aqui, quis, singelamente, fazer um link entre a aproximação feita entre pessoas/relacionamentos e ações, como reproduzi no post amor líquido - é melhor certas coisas suportar do que nessa vida só-portar ². Enfim, se é para aprendermos relacionamentos através do mercado financeiro, nada mais apropriado do que falar de quem obteve tamanho sucesso e lucro no mercado de ações! E como lá o chamam de Biruta, mas um biruta com eixo, como se fosse um norte em meio ao desconhecido e, ainda mais, falaram da pecualiridade de não deixar quem nele investe no prejuízo, achei mais do adequadas as aproximações! Por mais que seja indigesto pensar que qualquer um, além de investidor, pode se ver no lugar de papéis sem valor de mercado! ulá-lá! E eu que nunca apreciei essas tais coisas, que sempre preferi flanar sobre esses detalhes da realidade, por sempre achar que relacionamentos e pessoas eram mais importantes, eis-me aqui, querendo conhecer esse mercado de um outro jeito! :))

Anônimo disse...

Sabe que adoro ter minhas fotinhos no seu blog!!
Vou voltar a fotografar!! To refazendo photoshop na UC Berkeley Extension e curso na Apple store... me aguarde amiga:)
Beijos,
Li