segunda-feira, junho 23, 2008

Relações e ações: contrastes e confrontos inexoráveis.


Eu, volta e meia prometendo fazer apromimações entre as visões de mundo ocidental e oriental, especialmente com o que nos ensia a tradição do yoga, começo a semana por um outro lado. Pois eis que uma das primeiras informações que me chegam é acerca da forma como uma famosa grife de calçados, de nacionalidade indiana, conhecida como "Catwalk", fabrica seus produtos: com mão-de-obra praticamente escrava, para os padrões parcialmente "globalizados", se é possível conceber essa idéia, o que gera peças feitas artesanalmente, a um custo de produção final inferior a U$ 7,00 (sete dólares). Algo em torno de duzentos funcionários produziriam de 800 a 900 pares ao dia, numa jornada de 16 a 17 horas de trabalho, na fábrica que faz as vezes também de casa, posto que lá não só comem, como também dormem. Se fosse possível eu traria aqui a reprodução do arquivo que me foi enviado por uma querida amiga, que teria sido produzido pelo proprietário de uma fábrica de sapatos brasileira, denominada Schutz. É fato, também, que amigos, sempre bem informados e acima de tudo desconfiados, qualificaram o email de um hoax malvado. Contrariamente ao ali colocado, vieram dizendo que os indianos são bons na prestação de serviços, mesmo que as condições estéticas não sejam as melhores, para um jeito ocidental de ver a vida.

Essas notícias teriam sido trazidas pelos mesmos ventos que me fizeram retomar uma, dentre tantas leituras que pacientemente me espreitam? Pois reencontrei-me com um dos livros que pendem na minha lista de espera, "Paixão Índia", de Javier Moro, Ed. Planeta, que já figurou na lista dos "Mais Vendidos", ou o já incorporado "Best Sellers". Conta a história de Anita Delgado, uma jovem dançarina espanhola que veio a se tornar uma das Princesas de Kapurthala, principado indiano cujo Rajá, de origem sique, tinha o nome de Jagatjit Singh - abreviatura de inúmeros patronímicos que acompanhavam a sua linhagem que não era lá tão tradicionalmente real, por assim dizer.

Dispensável dizer que o livro, até agora, muito me agrada, por trazer informações singulares acerca de um mundo desconhecido e, por isso mesmo, sempre fascinante para quem gosta de mistérios. E eis que em meio a tantas novidades, descobri que os siques são os que fazem parte de uma religião nascida no Punjab, para lutar contra as castas e os anacronismos do hinduísmo e do islamismo. A grande bíblia dos siques, chamada Granth Sahib, é uma compilação dos ensinamentos de seus grandes gurus, centralizando todas as cerimônias religiosas dos siques: seus ensinamentos são lidos em batizados, casamentos e velórios - eventos importantes, creio eu, em praticamente todas as formações sociais. Quem souber de exceções, por favor me conta! E é do livro que retirei não só essas primeiras informações, mas o trecho, lá reproduzido, da escritura sagrada lida quando da celebração do casamento da bailarina européia com o príncipe indiano, ambos figuras que mereciam, de fato, um livro, cujo romance, como disse o autor, foi apenas um efeito inevitável da vida real desses personagens que habiam as histórias das mil e uma noites. Em negrito, por supuesto, a parte que mais apreciei :))

"Aceitai este livro como vosso mestre
Reconhecei a humanidade como uma só
Não há distinões entre os homens.
Saem todos do mesmo barro
Homens e mulheres iguais
Sem mulheres ninguém existiria
Exceto o Senhor eterno, o único que não depende delas...
"

Assim, nesse mês tão catolicamente dedicado a Santo Antônio, o padroeiro dos amantes, nada me pareceu melhor para começar a semana! E para contribuir com essa salada-de-frutas, uma imagem do tantra tibetano :))

O título do post é em homenagem ao pré-lançamento do livro "Samurais e Bandeirantes: contrastes e confrontos inexoráveis", de Virgílio Balestro, meu insuperável, o que o torna eterno, Professor! :))

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