Hoje fico com algumas assertivas zás-trás:
A razão maior para pedir desculpas é o perdoar a si mesmo. Se você pedir desculpas sentido mágoa, já é um bom passo, mas melhor é pedir desculpas de coração livre. Quando você pede desculpas assim, é por você mesmo que o faz, quando já se perdoou. Mas talvez o medo da rejeição seja o que barre o ato. Não importa o outro, necessariamente. Se ele quiser passar por cima de você, abaixe-se e deixe que as suas costas sirvam-lhe de trampolim. Assim você evita de gastar sua energia com atritos desnecessários. Mas isso não é sinônimo de rever sua posição - a de pedir desculpas, por achar que assim deve fazê-lo. As desculpas não se confundem com a postura de manter os princípios que entender justos e corretos, até mesmo pelo que se conhece por livre-arbítrio. Há de se respeitar as diferenças, a liberdade, sempre!
Não existe essa história de que numa discórdia não estejam implicados dois corações. Não olvide, o perdão é com você, aceitar o seu pedido de desculpas é com o outro - talvez ele mesmo ainda não tenha perdoado a si próprio, esteja com vergonha, vai saber, não é mesmo? Se entender a verdade desse dito será mais fácil quando as desculpas não forem aceitas. E se o amor for genuíno, tudo ficará bem. Tem também tantos jeitos de pedir desculpas. Alguns o fazem brincando, outros agindo como se nada tivesse acontecido. Às vezes vai bem, as coisas ficam mais leves - mas isso serve para reaproximar, nem sempre para superar os contra-pontos. Não dá para fugir das nossas verdades, pois se a gente não as enfrentar de um jeito, no mínimo do melhor jeito possível, o reflexo de ignorá-las voltam nos richocheteando. Esse é um jeito de ensinar, pelo exemplo de ser quem se é.
Como também é por amor que você diz não, que você inflige alguma 'punição'. Uma segunda forma de ensinar. Às vezes se pune por amor a si mesmo, para proteger a sua auto-estima, a sua mágoa. A isso eu conhecia quando criança pela expressão: 'iiii, fulano (a) amarrou o burro!'. Mas há um punir que vai para além disso - aquele que pune com o único intuito de ensinar as regras do jogo. O punir legítimo se faz necessário, pois porta em si a necessidade de educar, de colocar o outro em movimento por si mesmo, como dizendo - você quer comer, então venha até aqui dar a sua contribuição para o seu alimento. Mas preste muita atenção: você nunca legitimimará a sua forma de ensinar, mesmo que isso implique dizer um não, de caráter 'punitivo', agindo do mesmo modo, de forma idêntica à postura que entende equivocada. Imagine assim: uma criança vê um pai ou uma mãe o tempo inteiro contando mentiras -, como será que a criança vai entender quando ouvir: filho, mentir é feio. Talvez conclua que os pais são feios... mas se os achar bonitos -ou você acha que só os filhos são bonitos para os pais?-, como será que a criança vai processar essa informação? Quem sabe cresça em um eterno conflito entre a postura de mentir ou falar a verdade e o reconhecer-se como feio ou bonito. Podemos torcer para que a lógica do seu desejo se fundamente no falar a verdade para se reconhecer bonito como acha seus pais, mas pode ser que minta para se reconhecer bonito, pois seus pais não são feios e se eles mentem... Inúmeras poderão ser as formas de interpretação na tentativa de compatibilizar a dissonância entre o ato e a fala e, a partir daí, formar um dito, uma verdade - uma verdade construída por amor. Porém, uma verdade construída por emoções que não entendem e se resolvem do melhor jeito possível para justificar esse amor de criança, cujas razões poderão, mais tarde, ser de difícil compreensão pela lógica racional. Eis aí uma forma de tentar explicar a diferença entre a ética do desejo e a ética social.
Ah, isso hoje tá bem fraquinho para toda essa discussão. Mas hoje é domingo, aqui dia de céu azul, de barquinho deslizando no lago, dia de escutar música, de sorrir, de pedir perdão e fazer as pazes. Então vai lá e diz assim: haja o que houver, eu sempre estarei aqui do seu lado. De você para você mesmo.
II - A mesma coisa, de um jeito diferente.
Ideais inspiram mais que mandamentos, por Annie Besant.*
"A segunda grande idéia sobre a qual assenta a nossa Sociedade é que as emoções de um homem evoluído guiam-se melhor por Ideais inspiradores do que por códigos e leis. É esta a segunda pedra sobre a qual se ergue a nossa Sociedade. Há duas maneiras de ensinar moralidade. Uma diz: 'Farás isto e não farás aquilo'. Impõe mandamentos e proibições, e obriga por meio de penas à obediência a esses mandamentos. A outra ergue o Ideal de amor nobre e do sacrifício de si próprio, da pureza e do auxílio, e deixa que estes, pelo seu poder sobre o espírito, consigam que os homens imitem as vidas nobres e assim as realizem. A primeira é a maneria que forçosamente têm de empregar o Estado e todos os governos laicos; ao passo que a outra é a de toda verdadeira Religião, que leve um indivíduo a seguir uma vida espiritual. Porque a nossa Sociedade é uma Sociedade espiritual, e porquê crê que o homem é fundamentalmente divino, que a razão é um tesouro sem preço e não uma ilusão, que a inteligência precisa ser livre para poder investigar todos os assuntos, que o Belo, o Bom, o Verdadeiro basta serem vistos para serem amados, por isso dedicamos a nossa Sociedade à Inspiração de grandes ideais, e não à difusão de qualquer crença estreira ou estreito código de leis. Se um irmão cai, preferimos tirá-lo do atoleiro, ajudando-a a sair, a excluí-lo da Sociedade por ser indigno do nosso convívio.São estas as pedras sobre as quais assenta a nossa Sociedade, e, enquanto sobre elas assentar, durará."
*Novamente, Annie Besant, em 'Os ideais da Teosofia', tradução de Fernando Pessoa, Ed. Teosófica, pág. 21/22.
Em 29.8.2005.
III - Como se fosse fácil...
É, eu sei que tudo isso é fácil de falar, porém muito mais difícil de praticar. Mas quanto a isso eu acho que a teimosia é a melhor qualidade a ser desenvolvida. É inevitável que a gente sinta emoções negativas no convívio com o outro... O que eu faço? Não sossego até descobrir onde reflete em mim esse espelhar da atitude alheia, a debochar da minha razão, espetando a emoção. Ou seja, a pergunta é: onde eu me implico nisso? Pois se algo reverbera em nós, é, no mínimo, pelo fato de que não somos isentos a esse algo que, mesmo no contra-ponto, é o reverso da mesma coisa.
"Nunca seja mesquinho. Não alimente ressentimentos contra quem quer que seja. Prefiro pecadores de bom coração às chamadas pessoas boas, que sejam intolerantes e destituídas de compaixão. Ser espiritualizado é ter mente aberta, compreender e perdoar, e ser amigo de todos.
A lei básica para um comportametno humano correto é a auto-reforma. Sempre que houver qualquer dificuldade em nosso relacionamento com amigos ou familiares, deveríamos interiormente nos censurar por nos termos colocado numa situação desagradável, tentando sair dela o mais rápida e elegantemente possível. É inútil agravar o problema reprovando os outros, com gritos, falta de amabilidade e cortesia, mesmo quando achamos que a culpa é deles. Aos ente queridos que sejam geniosos, podemos ensinar a corrigirem suas falhas dando-lhes um bom exemplo, e isso é cem vezes melhor do que utilizar palavras ásperas ou presunçosas."
"Tudo o que partir de você voltará a você. Odeie e receberá ódio em troca. Quando se deixa invadir por emoções e pensamentos desarmoniosos, você está se destruindo. Por que odiar ou ter raiva de alguém? Ame seus inimigos. Por que arder no calor da ira? Se ficar com raiva, trate de superar esse estado imediatamente. Saia para uma caminhada, conte até dez ou quinze, ou desvie a mente para algo agradável. Abandone o desejo de represália. Quando você se encoleriza, o cérebro se superaquece, o coração tem problemas com as válvulas, todo o seu corpo se desvitaliza. Irradie paz e bondade, pois essa é a sua verdadeira natureza. Então ninguém poderá perturbá-lo."
Por Paramahansa Yogananda, "Onde existe Luz".
Em 30.8.2005.
E hoje, dia 23/05/2006, complementando:
"Dias desses li: 'Perdão a gente não pede, conquista'.
Mas e daí, se isso for verdadeiro, isso exclui necessariamente o que eu escrevi nesse tempo aí atrás, quando afirmei que perdão a gente pede é pela gente?
Well, well... como diria alguém que teve a gentil paciência de me escutar por tempos significativos, é preciso ter muita humildade para perdoar a si só.
Well, well... como digo eu então agora: então, primeiro a gente precisa é perdoar a si mesmo pelo fato de que às vezes a gente escorrega, como que pisando numa casca de banana, por essas andanças mundo a fora? Bem igual àquele jeitinho que aconteu comigo, quando ainda na faculdade, que foi quando aprendi que quando a gente escorrega na casca de banana, a gente cai com a buzanfa no chão, feito desenho animado, trazido para a vida real, do jeitinho que ela é?
Well, well... acho que esse é o primeiro passo então, essa coisa do perdão ao nosso egão, para que a gente recupere o fôlego e parta para as próximas conquistas!!!!!!!
Well, well... acho que eu concordo com vc, baby. De mim, para mim mesma, num conversê nada particular.
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